sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Desconhecido


Você não me conhece nos seus lábios de alumínio
Não me vê debruçado sobre os volantes rasgando a noite
- destroçando estações, todos os leões de mármore da noite
Não me conhece, enquanto escuto os assassinos urrando
Dissolvendo em ásperos amanheceres minhas saudades
Você nunca me viu em chuveiros enquanto soluço o álcool das suas veias
sobre o teu torso de apolo eu te apunhalo com as pombas e cílios
- depois de cada gozo você não me conhece nos viadutos
nunca mesmo nem me imaginou nas nuvens caldalosas dos meus oceanos
é como se sozinho fosse como brisa morta, soprando
soprando aquelas algas mortas que pisei e onde você estava?
Na sala de cinema suas mãos não passam de súbitas lâminas
enquanto eu via o mar eu via as ondas eu via as conchas
meus sonhos de calcário se tornando sólidos na solidão dos seus pés
ligações muito mortas, você não me viu dormindo abraçado com o ar
Você não sabe como são meus olhos pousados sobre o mar
só os conhece perdidos no suor surdo da sua pele
Não conhece o peso do meu coração, o engrossar imenso do meu sangue
- o que eu sei é das suas luzes arqueadas no santa tereza
- o que eu vi foi sua boca se partindo em duas praças à meia-noite
- engolindo a espinha dorsal da serra sem fim, nossa curva sem fim
Poesia: João Tonucci.
Imagem: M.C. Escher,
Print Gallery, lithograph - 1956.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Metamorfose em noiva


Depois da maternidade – clímax da experiência unicamente feminina na Terra –, talvez o período mais curioso da vida de uma mulher sejam as vésperas de um casamento, momento do nascimento de uma "noiva". Portas de um mundo desconhecido se abrem e a mulher desprevenida, distraída ou suficientemente rica pode se inebriar. Há um grande mercado que sobrevive fartamente à custa dos casamentos: igrejas, buffets, recepções, floriculturas. Mas isso é sabido e apetece a ambos os noivos. Algo mais extraordinário e fútil, excetuando-se todo o romantismo, é o mercado da noiva.

As vendedoras de uma loja entram em frenesi quando a cliente confessa estar procurando um vestido para o seu casamento. Os olhares arrogantes para moça que adentra de jeans e tênis se transformam em pares de corações (ou de cifras?). A vendedora chama a gerente: "Ela quer um vestido de noiva!", e a excitação é geral. A moça tenta manter o foco, prometendo-se não gastar mais do que havia planejado, mas já encantada com modelos que custam o triplo. A gerente promete todas as facilidades no pagamento, e um clima de permissividade econômica invade cada etapa da construção de uma noiva. "Afinal, é o seu casamento!", exclamam em uníssono as vozes femininas, das vendedoras à mãe, que, apesar do seu passado hippie, sob a bolsa peruana e as sandálias de couro, sempre nutriu em silêncio o sonho de se vestir como princesa. O sonho é transferido à filha, linda, dentro do provador e de um vestido cujo preço é um salário.
A moça começa a absorver as expectativas. Folheia uma revista especializada em noivas e se pergunta, com sua mente crítica forjada no ambiente universitário, "como é possível preencher 70 páginas mensais com vestidos brancos?". Mas a hesitação dura pouco, pois a curiosidade recém-despertada a leva comprar o produto que antes receberia o carimbo de sua autocensura.
Ela começa a enxergar sutilezas que antes nunca lhe ocorreriam. Um esmalte perolado de repente parece muito diferente de um tom mais metálico. Num dia, a jovem se pega toda enfática, discutindo seriamente sobre arranjos de cabelo e depilação pré-nupcial com a amiga da faculdade, que também vai se casar, e com quem antes só discutia sobre a infinitude do universo, a literatura feminina e as bandas indie. O dia da noiva está marcado num salão chique da cidade. O pacote inclui banhos de sais, de lua, de creme, adestramento dos pêlos, unhas, penteado, maquiagem e uma assistente só para catar os grampos que caírem no chão. Ela está dando aulas particulares de inglês para bancar tanta despesa e percebe o exagero, mas releva.

Nada pode ser mais feminino, dentre as futilidades da vida, que uma mulher se transformando em noiva, ainda que nesse estado ela dure apenas uma noite. Como tudo passa, a carruagem retornará à condição de abóbora; a princesa, à de mulher contemporânea. A mãe reassumirá as preocupações com o meio ambiente e a emancipação feminina, o mercado da noiva subitamente sumirá de vista, bem como as revistas. Nenhum homem jamais entenderá essa experiência, que apenas indivíduos com dois cromossomos X podem ter. Não que os homens não tenham seus momentos de excessos, particulares do seu gênero: o fanatismo por esportes não deve nada em exagero à produção da noiva. Na contagem dos pontos, o que fica é algo a mais depositado no saco das experiências de vida. Quer a julguemos importante, apenas divertida ou simplesmente absurda, a "metamorfose em noiva" será catalogada, juntamente com o salto do bungee jump e a viagem de mochilão, como uma experiência radical: radicalmente feminina.
Texto: Luisa Godoy.
Imagem: Eduardo Araújo

terça-feira, 20 de novembro de 2007

PARA SEMPRE


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,

luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.

Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.




Carlos Drummond de Andrade






domingo, 28 de outubro de 2007



Humana-animalidade


Desejo que voa veleja viaja transparece trapaça tropeça trepa
no muro e sobe pelas paredes,

pula a janela e vai ao encontro...

Sob a luz de velas
sob a luz da lua
da pele nua

do pensamento torpe etilicamente estilizado...


Do sopro quente,
da alma que incendeia,
os velos, as sinapses,
as teias do destino,

que ata e desata os nós da nossa existência,
até a quinta-essência da nossa humana-animalidade.






Art Toilet By: Finurias

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Onírica



Lá no alto da cidade, onde o vento faz a curva, sorrisos e lágrimas se misturavam. O coração batendo forte estava cansado de navegar num mundo imaginário. Correu atrás da verdade. Cruzou a cidade, arrumou os cabelos, colocou a camisa para dentro da calça, consertou a postura. Deu mais alguns passos, certificou-se de que estava em um lugar isento de desconfianças. Não queria que soubessem qual era a sua intenção.

De tanto se ocultar, ocultava-se também o que queria descobrir. Deu um passo atrás e ficou no meio de tudo. As coisas foram se clareando. A luz começou a entrar pelas frestas, portas e janelas. Atingiam diretamente a retina e os olhos que ardiam, queriam se fechar, mas não podiam. Precisavam ficar bem abertos pra ver. A verdade começou a se despir. Certa timidez tomou conta, uma vontade de sair correndo. Ficou.

Os olhos foram deixando de arder e então pôde ver tudo, claramente. Finalmente entendeu. A claridade começou então a abrandar lentamente. Foi embora, junto com o último raio de luz que escorria rua abaixo. Deitou-se com satisfação, pois descobriu que o desamor não era apenas imaginação. Adormeceu-se e sonhou que nada disso era verdade...

Imagem: Obra de Renata Schussheim.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007


"Só o vinho é real"



Não temos nada
mas temos agora a realidade em nossas mãos
para bebê-la em doses generosas.
Temos o céu, a rua, os velhos clichês
e um novo enredo para o mesmo "Happy End".






Kamilla Mota


Imagem: Jacques Blény.

Frase título: Albert Camus.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O mundo é um poema


Céus!
Pétalas de rosas.

Olimpo
Não acredita em promessas escandalosas.

Vênus é moça que roça-e-vai.
Coração de poeta enfarta com esmola.
Boêmio que vacila cai.

O mundo é um poema.
Eu e você, um hai-kai.


Daniel Rubens Prado

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

De certa forma, o perdão


Perdoa-me!
Mas, no meio dessa Loucura,
Tem o coração.

Não olhem para mim.

De certa forma,
O poeta tinha razão:
“É melhor viver do que ser feliz!”



Imagem: Vinícius de Moraes e Gilda Mattoso.



Daniel Rubens Prado .

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Setembro no nosso Brasil é, seguramente, tão lindo quanto abril em Paris!


A TUA VOZ NA PRIMAVERA

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!
Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!


Título e fotografia: Marcella Jacques
Nossa correspondente no Rio de Janeiro.
Agora, pelas curvas das estradas de Sampa.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007


NOITE MORTA



A rosa profunda explodindo a garrafa de vodka, um tesão imenso
Uma ou duas doses, a terra molhada e o gosto do sexo bem quente
Meu amor está aqui na minha cabeça acima das estrelas mofadas
Respiro a poeira suja de cada beco, e das nossas histórias falsas
Além de cada remorso, de cada explosão de saudade que mata
Que devasta todos meus jardins de musas & faunos deliciosos
Eu vou além! exagero todas nossas viagens, e morro logo depois
Em um êxtase supuroso de tremores esverdeados e bombas
Nus estamos, e sonho com festas e seus beijos de chumbo quente

x
Jon Tonucci.
Imagem: Sign of Times,
by Stevyn Llewellyn.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

quarta-feira, 5 de setembro de 2007


“Mas há a vida que é para ser intensamente vivida,
há o amor.
Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota.
Sem nenhum medo. Não mata.”

Clarice Lispector
Há a vida. E por acreditar ser uma só, era a tentativa dela de experimentar mais uma vez o furor. Há tempos a doçura havia tornado tudo mais calmo.

Há o amor. Os beijos ternos, o olhar profundo, a razão por dias mais serenos. Menos solidão, o sono aconchegado, todo um cuidado.

Tudo o que ela desejou durante toda a vida estava ali, ao lado. Bastava um erguer dos braços e teria o abraço. O que sempre esperou.

Mas, há a paixão. E, tomado por uma súbita revolta em ver que ela poderia não ser mais sua, perdeu-se, e com ele o sentido. As mulheres tantas, a vida desregrada, a facilidade em beijar flores. Nada disso importava mais. O sentimento fulminante, a carne viva; o corpo em estado de tensão, esperando o momento de explodir em ações e insensatez. Quedas de hormônios na corrente sanguínea. O sangue irrigando tudo, o rosto ruborizando. Vermelho é a cor. Paixão. E vicia. Lisérgica? As cores parecem ficar mais vivas, as palavras começam a tecer poesias, a música não pára de cantar. A vida parece que nunca vai acabar. A figura se geometricando em três lados, cada um escondendo verdades que ninguém quer. A mentira, a possessividade, o ego, a luxúria, a carência. Tudo sendo mascarado pelas declarações bonitas de um sentimento que passaria tão rápido quanto o efeito de outra droga qualquer. Abrindo fissuras no coração. Dificilmente serão cobertas.

Ela se confunde e se apaixona. Ele se perde em suas próprias esperanças. Talvez, de um dia ter alguma certeza. Os dois em pouco tempo se iludem e vão.
Ela volta pro amor. Ele para as flores. Dor, inevitável elixir de quem escolhe viver.
Ana Flávia Rodrigues,
– Setembro de 2007.
Imagem: The Butterfly,
por Monica Shelton.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Pétalas


“Ai quem me dera ouvir o nunca mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E finda a espera ouvir na primavera
Alguém chamar por mim...”

Vinícius de Moraes.



Amanhece. E quanto encanto, meu Deus! Nesta ruazinha, onde morava minha amiga, existem árvores enormes, onde o sol pode brincar de escapar. E os meus pensamentos também escapam por entre o verde e a luz.

É de manhã. O resto das bebidas adormece sob uma camada fina de gelo, junto a pétalas de flores. Jogaram pétalas no isopor de cervejas, acredita? Várias cores. Mas não tão coloridas quanto aquela que veio vagando e, com um charme descabido, chegou com a voz mansa. Os lábios úmidos, o olhar perdido e um sorriso suspenso em um horizonte de delicadezas.

Há luz. Mas havia ainda mais. Ela estendeu a mão para a dança e o mundo ficou mais humano. O violão tocou. E todos passaram a falar mais baixo. Até o vento sossegou. Tudo em respeito àquela dança. Puro respeito àquela moça.

É dia, mas ainda posso ouvir vozes. Em meio aos primeiros sinais dos passarinhos, essas vozes, ora em português, ora em língua estrangeira, surgem e ficam como um eco, que vai se perdendo aos poucos, como um carinho vago. Provavelmente, são essas vozes que me acompanharão até os sonhos, induzindo visões irrecusáveis. Sonhos curtidos e cultivados sem a vã preocupação dos ponteiros. Sem a pressa inútil dos que não param nunca. Sem a promessa que alivia. Que outros, talvez, chamariam de tempo.

Todos partiram antes do amanhecer. Eu fiquei para relembrar a beleza de uma noite bem vivida. Enquanto a moça dorme envolta em seus próprios sonhos e outros desvarios, procuro e acho a imagem dela presente na imprevisível felicidade da nova manhã.

O vento alisa meu rosto enquanto o sorriso brota. Um sentimento de carinho preenche o dia. Eu fico inerte ao lembrar o beijo de adeus e a flor levada pela moça responsável por todos esses sorrisos. Causa primeira e única do meu súbito encanto e do meu dia.

Uma folha cai na minha frente. É mais um feixe de luz que escapa. Um pensamento que voa. Pétalas. Bom dia!


Fotografia: Ana Bizzotto.
Daniel Rubens Prado.
Inverno de 2007.
“Ai, quem me dera...”

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Moça de manhã


A manhã de sábado convidava à irresponsabilidade. Até o sol flanava céu afora. Bem devagar, como se esperasse a hora do almoço. Por isso, brilhava como uma gema de ovo, dourando o mundo.
O andar desajeitado do sol contaminava a moça, que chegou à varandinha que dava para o terreiro. Espichou-se como uma serpente preparando-se para dar o bote. Tombou o pescoço, fechou o olho direito, calculou a mira e o tiro saiu perfeito: acertou o sol. Lá dentro.
Recuou, maravilhada. Cega de tanta luz. O céu, encharcado de azul. O brilho do sol ofuscava algumas nuvens que, pouco antes, se orgulhavam da luminosidade da sua brancura.

- Coitadas - pensou a moça, aconchegada na lindeza de camisola. Tão curta que mais parecia um abajur. A cobrir luzes ou brilhos, sabe-se lá.

- Um dia bonito assim e eu sem nada que fazer – pensou, com a consciência do pleonasmo negativo.

Namoro terminado. Melhor amiga viajando. A mãe na igreja. O irmão na pelada de futebol. O pai no Mercado Municipal – cerveja, bife de fígado acebolado, os amigos.
Solidão.
Ela se bastava.
Só, somente, sozinha.
Esfregou os olhos. Olhou de novo para o sol.
Matutou.
Num gesto brusco, saiu do alpendre.
Voltou logo. Uma tesourinha e um alicate nas mãos. Às unhas!
Sentou-se a uma cadeira, virada para o sol e para as réstias de raios que começavam a desenhar camadas de ouro no chão do alpendre.
A moça ergueu a perna direita. Uma perna em toda a glória de efêmeras penugens e tímidos músculos. Com uma marca de queda no joelho. Lembrança de uma tarde na Serra do Cipó.
Um suspiro espesso, dedicou-se a navegar a bordo e estibordo das unhas do pé direito.
Depois de cinco minutos de bifinhos e ais, trocou de perna.

De sob a cadeira, veio a perna esquerda. Com os mesmos músculos tímidos e as penugens efêmeras. Faltava apenas o sinal do tombo. Nada é perfeito.
O sol passeando lá fora. A moça, do lado de dentro, continuou a perfunctória missão de remexer nas unhas.
Enfim, descansou tesourinha e alicate na mesa comprida. Espanou os estilhaços das unhas com tapinhas de alta delicadeza. Especialmente os que ficaram na barra da camisola.

Levantou-se.
Espreguiçou de novo.
O nada que fazer chegou ao auge.
Pôs a mão no queixo. Mas não refletiu sequer um segundo.
Pelo jeito que saiu do alpendre, tomara uma decisão. Definitiva e inarredável.
Era verdade.
Tomou sim.
Voltou lá de dentro com um violão na mão.
Sentou-se. Botou o pé direito num pufe distraído, que tingia de verde
a frente da cadeira.
Ajeitou um lá maior.
E começou a cantar a música que aprendeu, toda vez que seu pai brigava com a mãe:
- Teu mal / é comentar o passado. / Ninguém precisa saber...
Desafinada de fazer dó. Ou lá maior?


Para Renata H.


Crônica: Melchiades Cherubino

Imagem: Louisiana, por Lora Shelley.
Para mais obras da artista, clique aqui.

sábado, 18 de agosto de 2007

HAI
cai o dia
dentro de um copo
o sol vira boemia
Até onde eu sei - Imagem: Luís Neves Ferreira.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007



“Depois daquele baile...
A magia do nosso samba
tomou conta de mim e me fez sorrir,
com aquele olhar distraído
de quem viveu um momento muito feliz”.

Depois daquele baile...


Permaneceram sorrisos leves e outros olhares,
Distraídos.
Riso fácil na tarde de domingo.
Lembrança boa na memória.
Eu, disperso.

E frio. Muito frio.

A imagem daquele baile é a fotografia nítida...
Dos sorrisos, passos, olhares e beijos.
Beijos de despedida.

Para um caminho de adeuses, que sejam sempre assim.
Longe da melancolia das coisas fugidias,
E próximos ao encanto das coisas boas.
Das boas companhias.

Depois daquele baile...
Pertencemos a um só tempo.
Um tempo, talvez, de suavidades e delicadezas.
Tempo onde o carinho baila
E corações despojados dançam.

Dançam não só porque é o que lhes resta,
Mas pela esperança de outros sambas alegrias.

Depois daquele baile,
Saudades.




Daniel Rubens Prado.
Inverno de 2007.
Alguns graus. Talvez o dia mais frio do ano.
Uma segunda-feira.

Imagem: Autor desconhecido.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Imagem: Metalloid for Lunch , Hotel Statler, DC, 1943



Depois da estréia da nossa correspondente no Rio de Janeiro, Marcella Jacques, trazendo o lirismo da cidade purgatório da beleza e do caos para o Eutanásia, agora é a vez do nosso mestre cuca de plantão dar as caras, com a coluna Você Tem Fome de Quê? Senhoras e senhores, Leonardo Deoti.


Você tem fome de quê?



Comida é pasta, bebida é vinho


Todos sabem o quanto é bom uma boa dose de praticidade quando se está cansado. Principalmente, depois de passar o dia inteiro resolvendo pepinos e ouvindo abobrinhas. É provável que os próximos dias não sejam muito diferentes. Fazer o quê? Tudo o que se deseja é chegar em casa, tomar aquele banho, alimentar-se com o que houver e dormir. Não é verdade? Pode até ser, mas eu tenho a petulância de dizer que o seu dia, aliás, a sua noite, está apenas começando. Principalmente se você tiver uma companhia, no mínimo, agradável. Namorada, esposa, filhos, amante ou até mesmo um amigo, bom de fala e de ouvido, esperando a simplicidade, a leveza do crepúsculo e o frescor da noite. E digo mais, não é necessário muito trabalho para proporcionar uma situação de sabor e prazer e, principalmente, relaxamento.

Temos que fugir das complicações, suprir as necessidades, aproveitando o tempo que sobra para desfrutar a pessoa ao lado. Por isso, após aquele almejado banho gelado (ou bem quente, para os menos animados) e uma roupa confortável, escolha um prato, dentre os que se encaixam perfeitamente nesse tipo de situação. Garanto que, após uma refeição maravilhosa e acompanhada de uma trilha sonora escolhida a dedo, é só correr para o abraço! Ou para o beijo, se a escolha for uma bella ragazza. Depois disso, seu estresse já terá desaparecido e suas energias renovadas.

*** Demonstração prática ***

Leo Deoti.
Imagem: Autor desconhecido.

Demonstração prática


Ao vasculhar a dispensa, encontrei um pacote de penne. 250 gramas. Pronto, decidido! Massa é uma refeição simples e rápida; e pode ser nutritiva e completa, dependendo dos ingredientes adicionados. Em torno de cinco minutos, a massa fica “al dente”. Esse é o ponto ideal do cozimento para entendidos. Porém, no Brasil, algumas pessoas preferem uma massa mais macia.
Se o cozimento não for interrompido por água gelada, o próprio calor fará a massa chegar ao ponto ideal. Agora, se você escolher levá-la ao forno depois de misturada aos outros ingredientes, é melhor parar o cozimento, antes que chegue al dente. O calor do forno se encarregará de terminar o serviço. Ressalto que não é necessário colocar azeite, muito menos óleo na água na qual se cozinhará a massa. Coloque um pouco quando a água já estiver em ebulição. E, como não podia faltar em uma receita, sal a gosto.
Para decidir quais ingredientes vão com a massa, recorra à sua geladeira e/ou dispensa e pegue o que houver em sua frente. Inventar não é pecado. Eu, por exemplo, encontrei um resto de cogumelos Porto Belo, tomates cereja, aspargos e presunto de Parma. Cortei os tomates pela metade, os cogumelos em tiras, os aspargos em diagonal e desfiei o presunto. Coloquei os aspargos para cozinhar na água em ebulição por dois minutos. Depois, joguei água fria para proporcionar um choque térmico. Usei a mesma Sautese para todos os ingredientes. (Sautese é aquela frigideira com a borda inclinada, usada para saltear ingredientes. Ou seja, misturá-los jogando-os para cima). Salteei os tomates por um minuto, depois os aspargos e, por último, os cogumelos. Todos com um fio de azeite, sal e pimenta-do-reino. Misturei tudo com a massa, ralei um pouco de parmesão na hora e, pronto! Não levei mais de 20 minutos para fazer. Por sinal, achei deliciosa e ainda agradou a bella ragazza que me acompanhava.
Claro, não se esqueça de um bom vinho! Por ser uma massa sem molho, para uma harmonização, é imprescindível um vinho firme, fresco e balanceado. Se for um branco, opte por um pouco mais encorpado. Caso seja tinto, peça um que seja mais leve e frutado. Tão leve quanto sua companhia. E claro, dê preferência aos vinhos italianos, pois o prato é carcamano. Lembre-se, uma regra básica é sempre procurar harmonizar pratos com vinhos da mesma região.

Leo Deoti.

domingo, 29 de julho de 2007


Através da janela da van, vejo o Rio de Janeiro. Durante todo o dia, saio em busca de objetos para os cenários de um filme. É emoldurada pela janela que a cidade se apresenta para mim.

Os desníveis do Rio são, ao mesmo tempo, sua força e sua mazela: os desníveis geográficos são a grande característica visual da cidade, que em um desenho de montanhas peculiar, demonstra a soberania da natureza diante da interferência humana. Em contrapartida, os desníveis sociais são tão nítidos e incorporados ao “cartão-postal”, que é impossível também não senti-los nas retinas. Diferente da maioria dos grandes centros urbanos, a pobreza e a desigualdade cariocas estão entranhadas nas zonas mais nobres da cidade. Não somente nas áreas margeadas, suburbanas.

Descemos da van em frente à produtora. Bairro de Botafogo. Ao nos ver, o porteiro Zé diz logo:
- Faz cinco minutos que parou o tiroteio no D. Marta. (pausa) Fuzil!

Um colega nosso de trabalho tomou três tiros no braço, há dois meses. Enquanto ia buscar a filha na escola. Uma das balas ainda permanece no braço. Não pode ser retirada sem estilhaçar o músculo. Ele agradece por estar vivo, e mais – pelo braço atingido ter sido o esquerdo! Pôde continuar trabalhando.

Continuamos. Todos nós.

No dia seguinte, parto de Laranjeiras, bairro onde moro. Vou levar um tecido à costureira Aldeíde, na comunidade do Rio das Pedras, bem depois da Barra da Tijuca. Lá, o esgoto é a céu aberto. O odor é ainda mais forte que o sol que ferve nossas cabeças. 35 graus.

Depois, a van nos leva para o sentido oposto. Alto Gávea. Precisávamos pegar alguns móveis do próprio diretor para um cenário. Ao chegar ao espaçoso casarão de três andares, os ajudantes ficaram aliviados. Não tiveram tanto trabalho – a casa possui elevador. Da sacada do imóvel, a vista para a Rocinha não nos deixa esquecer tamanha desproporção.

Voltamos pela Lagoa. É fim de tarde. A luz do sol já está mais suave. Reflete nas águas e intensifica o azul. Ciclistas transitam mansos, como se não soubessem dos problemas além dos obstáculos da pista.

Desníveis, devem pensar. Apenas.
Texto e imagem: Marcella Jacques
Julho de 2007
“Purgatório da beleza e do caos”

terça-feira, 24 de julho de 2007

A última pilastra



“São dez para as seis da tarde. Espero meu namorado que vem passar o final de semana comigo. Há dois anos moramos em cidades distantes. Juntando dinheiro para poder morar juntos. Acho que não demora.

Cheguei cedo ao aeroporto. O vôo dele só daqui a uma hora. Combinei que não viria buscá-lo, por causa do trânsito. Mas quero fazer uma surpresa. Já fiz antes. Mais de uma vez. Amo ver os olhos dele cheios d’água. O abraço apertado e o beijo casablanca, no desembarque.

Daqui, vamos direto para o litoral. A casa de meus pais está vazia. Inteirinha pra nós. Hoje não é sexta. Mas tirei alguns dias de folga, para matar as saudades. Se o vôo atrasar, não tem problema. Tenho todo tempo do mundo para esperá-lo. O que importa é que ele está chegando.

Comprei três garrafas do nosso vinho. Duas de outra marca, para variar. Fui ontem ao supermercado. Fiquei quase duas horas pra lá e pra cá, procurando coisinhas gostosas, que meu bem agrada. Queijos, paezinhos, patês e, claro, ingredientes para fazer o fettuccine ao molho de cogumelos, que há tempos estou devendo a ele.

Conheci meu namorado na faculdade. Eu fazia arquitetura. Ele, cinema. Trombamos no corredor e logo estávamos dividindo o mesmo copo de cerveja no botequim. Formamos juntos e tínhamos planos. Mas, como sempre, os planos mudam. E meu amor também mudou. Foi para o sul trabalhar na produção de um filme. Sem problemas. Assim como os planos, nós também mudamos. Só o nosso amor que continua no mesmo enquadramento.

Minha família o ama. Graças a Deus ele torce pelo mesmo time do papai. Até costumam ir ao campo juntos. Às vezes, até preferiria que não se gostassem tanto. Em almoços de família, ele passa mais tempo com ele do que comigo. Ciuminho bobo, coisa de fêmea.

Quero ter seus filhos. Dois ou três. Uma menina, Júlia. Adoramos esse nome. Talvez, por causa da música dos Beatles. Dos meninos ainda não sabemos. Resolvemos pensar depois. Pedro, Marcos, Vinícius, João... Já discutimos tanto, e não chegamos a qualquer conclusão.

Queremos morar em uma casa com jardim e horta. Com direito a roseiras, salsinhas e cebolinhas. Provavelmente no interior. Vamos deixar nossas portas abertas. Sem medo, assim como fomos criados. Se não conseguir trabalhar com arquitetura, tudo bem. Monto uma floricultura. Sempre gostei de flores. Viver rodeada por elas, então, que maravilha.

Acabam de anunciar que o vôo dele está no horário. Senti mais um frio na barriga. Até parece que quem está voando sou eu. Vou ali, tomar um café e fumar um cigarro. Sei que o hábito não é dos melhores e meu namorado não gosta. Mas estou aflita. Sou muito ansiosa e a nicotina me ajuda. Depois, uma balinha de hortelã. Ele nem vai perceber.

Está quase na hora. Vou para o desembarque. Já até escolhi a melhor pilastra para me esconder. Não vejo a hora de ver o espanto dele quando notar que eu vim. Ah, é tanto amor, que dói...”

- Atenção passageiros do vôo JJ 3054: estamos sobrevoando o aeroporto e em breve iniciaremos os procedimentos para o pouso.

O avião não parou. A moça ficou plantada naquela pilastra. Tudo foi cancelado. O beijo, o abraço, o amor.


Daniel Rubens Prado.
Inverno de 2007.
Céu estupidamente claro.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O FIO


O fio
O traço
O corte
O azul entre o céu e o prédio
E eu mundano
E você no mais transcendental alcance
Te vejo e espero
A conclusão rápida e humana
Que me satisfaz por ser do mundo.
Quando te alcançarei, meu bem
Já que as estrelas são tuas esquinas
E eu continuo vestindo meu jeans e ouvindo meu blue?





Bruno Sales.


Imagem: Fel
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domingo, 15 de julho de 2007

Era eu e ela


Era eu e ela. Ela parada como curiosa em minha frente e eu completamente assustado e ansioso tentando o desenrolar do instante. Foram aqueles olhos me investigando que me tiraram o tino.
Eu, de preto. Aparatos técnicos, bolsas, lentes e uma vontade imensa de obter um algo a mais que apenas uma lembrança.
De pés descalços e catarro no nariz, ela. Tinha também um velho brinquedo no colo. Fiquei sem rumo; suei. "Será que eu peço? Será que eu faço?"
E a coisa estranha, talvez o errado era eu. A cabecinha mexia, pra lá, pra cá. Antes ela sair correndo e colocar um fim naquele sufoco angustiante que ficar ali esperando alguma coisa. Armei, preparei e fiz a foto.
E ela, "obrigada moço".
Texto e imagem: Bruno Sales.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Nem só de cachaça vive Mafalda


Mafalda perambula pelo centro da cidade. Vejo-a todos os dias, caminhando em passos curtos e com dificuldade. Um dia desses me disse que se tornou mendiga há sete anos. Não quis perguntar o motivo. Mas, pelo que sei, o ódio pelo ex-marido cresce a cada dia.
Mafalda aparenta 60 anos de idade. Mas, deve ter menos. Os olhos claros não escondem a tristeza e a solidão de quem vive pelas ruas. Vaidosa, pinta os cabelos de vez em quando. Mas hoje, chegou com cabelo bicolor e sentindo mais dores.

Rugas espalhadas pela cara inchada, costuma usar camisas largas, por causa da barriga que não pára de crescer. Vive atrás de documentos e direitos. Sem medo, luta. Está sempre em alguma ouvidoria, ministério, procuradoria. Já ameaçou ir andando até Brasília, para falar com o presidente. Mesmo que o ilustre líder tenha, um dia, sido pobre, duvido muito que ele a receberia.

Sempre que converso com Mafalda fico sabendo de alguma má-criação de sua filha Tereza. Parece que Mafalda ama muito essa menina, mesmo tendo ela mergulhado na ingratidão. Com o estômago fraco, alimenta-se de fé. E adora uma cachaça.
- Comida ninguém dá. Cachaça de graça, encontro em qualquer bar - diz ela, dando gargalhadas, descalça e malandra na calçada da Avenida Amazonas.

Hoje, Mafalda chegou falando baixinho. Com calma e o olhar distante, me disse que vai morrer. Eu lhe pedi calma. Ela logo respondeu:
- Ninguém tem calma de estômago vazio.
Calei-me.

Daniel Rubens Prado.
Outono de 2007.
“A gente vai levando”.
Imagem: Bandeira do Brasil Real.
Autor desconhecido.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Papos amenos

9106. Esse é o ônibus que pego todos os dias pela manhã para ir à labuta. O vento frio que, nessa época do ano desce pelas encostas do Aglomerado da Serra, bate na minha cara sôfrega e cheia de sono. Acendo um cigarro que, atrasado como eu, não chega ao final.

- Basta acender um cigarro que o ônibus chega – diz uma senhora de sorriso macio, que espera o outro ônibus, que vai para o centro da cidade.
Retribuo o sorriso, não tão macio quanto, e entro no lotação, ainda vazio. O primeiro “bom dia” vem de uma motorista morena, de óculos escuros e movimentos de piloto de fórmula truck. Pago a passagem com uma nota canastra de dois reais e procuro um assento. Vou observando, com volúpia, a rotina das pessoas. Não antes de admirar a beleza de uma mulata sentada em um dos últimos lugares do ônibus.
No meio do caminho, em um ponto da Rua Pium-í, costumo encontrar meu tio, o Djalma. Conversas amenas vão até a Praça da Liberdade. Ali, salto no ponto em frente ao Palácio do Governo.
Hoje aconteceu diferente. Tio Pradinho, como Djalma é conhecido, não passou pela roleta. Geminiano do fim de maio, meu tio completou 65 anos de idade dia 30 e agora não mais precisa gastar dinheiro com passagens. Cumprimentamo-nos por cima da roleta e ele se assentou na parte da frente. Entre eu e ele, um vidro, onde fica o jornal mural do ônibus. O que, junto ao barulho do 9106, dificultou bastante o nosso papo. Foi como naqueles filmes policiais, onde o advogado conversa com o bandido, olhando apenas através de um vidro e usando um telefone preto. No nosso caso, só faltou o telefone.
No auge de seus 65 anos, andando de ônibus de graça, Tio Pradinho me deleita com os casos da velha São Miguel y Almas de Guanhães. Cidade onde cresceram, lá pelas paragens da Rua do Pito, os irmãos Djalma, Ildeu, Lelinho, Silvio, Mara e o interessante jovem Márcio Rubens Prado. Pois, assim, era chamado meu pai, por Mãe Naná, sua doce avó, ao enviar-lhe cartas nos anos idos. Franzino e sonhador, papai um dia veio para a cidade grande, que nem era tão grande assim. Queria, entre tantas coisas, ser homem feito. E, quem sabe, escritor.






Daniel Rubens Prado,
Inverno de 2007.
Clima quente e seco, como previu a moça bonita do tempo.

terça-feira, 26 de junho de 2007

A garota do ônibus


Segunda-feira carregada de náuseas. Aquelas cervejas e pingas, com meia-dúzia de frangos a passarinho no estômago, garantiram mais uma segundinha daquelas. Além de assistir meu time perder, perdi o chorinho de domingo e preferi sonhar com finais de semana melhores.
Apenas 20 minutos atrasado, cheguei ao serviço pouco disposto. Passei o dia resolvendo pequenas pendências, sem dispensar o mal-estar. Ao meio-dia, estava de prontidão para bater meu ponto e ir correndo em direção ao outro ponto, o de ônibus. Lento, esperei 15 minutos cravados pelo 9106. Quando ele chegou, procurei um assento ventilado. Nada melhor que um ventinho gelado, para dar sensação de cura. Na minha frente, de moletom rosa, uma garota de cabelos repicados e jeitinho moleque. Ainda não havia reparado seu rosto, mas já o imaginava de uma beleza de doer.
Durante o percurso, prestei bastante atenção em seus movimentos. As mãos iam constantemente à cabeça, mostrando-se preocupada com algo. Eram mãos finas, de uma delicadeza ímpar. Parecia que ainda guardava algum sonho de menina. Volta e meia, virava para ver o mundo lá fora e conseguia vê-la de perfil. "Que beleza de garota", pensei, sem muito alarde.
Depois que já havia decorado quase toda a ternura de seus movimentos, comecei a pensar em que ponto ela desceria. O primeiro que me veio à cabeça, foi um ponto no Sion, onde já vi descer algumas das garotas mais interessantes desse meu Belo Horizonte. Mas o ônibus passou e ela sequer mexeu. Outras duas hipóteses foram os pontos que ficam na Praça Alaska e na Avenida dos Bandeirantes. Entre os dois, que ela não desceu, notei uma semelhança dela com A Garota da Ponte, protagonista do filme homônimo, vivida pela atriz Vanessa Paradis, que assisti há alguns anos, e me apaixonei. (Pelo filme de Patrice Leconte, também conhecido como A Mulher e o Atirador de Facas e pela garota da ponte, que na vida real é casada com o ator Johnny Depp).
Inquietação. A garota do ônibus não parou de mexer com as mãos. Brincava com os dedos, mexia no cabelo e, em um desses movimentos, exibiu toda a nudez de sua nuca. Essa sim devia ser uma das novas sete maravilhas do mundo, assim como o Redentor, com todo respeito ao maravilhoso Estado da Guanabara.
Por um instante, pensei que ela desceria no mesmo ponto que eu. Por um momento, pensei em dizer para ela sobre sua semelhança com A Garota da Ponte. Se não houvesse assistido ao filme, pelo menos a instigaria a fazê-lo. Mas, um ponto antes do meu, já no charme do bairro Serra, ela dá sinal. Sem olhar para este humilde escriba, desce do ônibus, coloca seu cachecol azul e sai andando. Deus sabe lá para onde. Quem sabe para a ponte?

Daniel Rubens Prado,
Inverno de 2007.
Cheira inverno, mas não faz tanto frio.



A atriz francesa Vanessa Paradis, protagonista do filme A Garota da Ponte. Com essa carinha, no telhado... Ai, ai...

terça-feira, 19 de junho de 2007

Amor, liberto amor


Amor pede,
Não exige nada.
Amor transcende,
Você, desassossegada.

Amor alegre? Triste?
Amor sem rótulos ou etiquetas.
Amor suave ou visceral.
Amor assim, amor, não faz mal.

Amor que invade amor,
Amor sem terra, que foge,
Mesmo querendo ficar.
Amor só quer amar.

Amor com unhas e dentes,
Amor sem medo de amor.
Amor e nossas carências.

No escuro, no claro.
Amor dado, não cobrado.

Amor, liberto amor.

Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.
"Amar se aprende amando".
Imagem: Lonely Heart,
By Tara Mc Pherson.

quinta-feira, 14 de junho de 2007


Sem tempo para escrever, com o computador pessoal estragado e na ausência dos outros colaboradores do Eutanásia, "Vai Carlos, não ser gauche na vida"...


Do livro póstumo "O Amor Natural"...



Sob o chuveiro amar


Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo -- é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou nos tornamos fontes?



Carlos Drummond de Andrade



Imagem: Water of Life, Nectar of Spirit, Bliss of Being Açive.

By Joe Mullally.

quarta-feira, 13 de junho de 2007



Pelo dia dos namorados, embora eu não acredite em dias como esse... mas vá lá. Vale a pena pela poesia do Leminski.






A LUA NO CINEMA




A lua foi ao cinema, passava um filme engraçado,

a história de uma estrela que não tinha namorado.

Não tinha porque era apenas uma estrela bem pequena,

dessas que, quando apagam, ninguém vai dizer, que pena!

Era uma estrela sozinha, ninguém olhava pra ela,

e toda a luz que ela tinha cabia numa janela.

A lua ficou tão triste com aquela história de amor

que até hoje a lua insiste:

— Amanheça, por favor!




(Leminski)



Imagem: Stefan Stenudd.

quarta-feira, 6 de junho de 2007


Lençol branco


Manias. Tinha muitas.
Cidinha acordava cedo, escovava os dentes e religiosamente, com o hálito fresco, voltava para cama sem frescura. Toda jeitosa, beijava-me debaixo do lençol branco.
- Bom dia, meu amor – dizia com um sorrisinho meio de lado.
Saía de casa sorrindo. Trabalhava feito burro de carga e não desanimava. Quando chegava em casa, lá estava ela. Pronta, sedutora como sempre.
O frango na mesa. Quando não vinha com a ave, um bife de boi temperado e um arroz piemontês. A cerveja gelada. Dava um gole e me passava a garrafa. Enquanto bebia, se roçava em mim. Não dava trégua. Nem eu queria.
Cerveja de lado. Trepávamos ali mesmo. Corpo exaurido. Fome repentina. Comíamos e depois fumávamos, escornados nas almofadas da sala de estar.
Sonolentos, em direção do quarto. Não tinha tempo para mais nada. Leituras, televisão. Nem mesmo o programa de futebol no rádio.
Dormíamos. Eu para um lado. Ela para o outro.
De manhã, sob o mesmo lençol branco, ela me acordava.
E com a boca me comovia.
Mania. Tinha muitas.



Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.

Imagem: Residue.
By Rosemarie Chiarlone

terça-feira, 5 de junho de 2007

Chico Buarque e Francis Hime para o Dia Mundial do Meio Ambiente...


Passaredo


Composição: Francis Hime e Chico Buarque


Ei, pintassilgo
Oi, pintaroxo
Melro, uirapuru
Ai, chega-e-vira
Engole-vento
Saíra, inhambu
Foge asa-branca
Vai, patativa
Tordo, tuju, tuim
Xô, tié-sangue
Xô, tié-fogo
Xô, rouxinol sem fim
Some, coleiro
Anda, trigueiro
Te esconde colibri
Voa, macuco
Voa, viúva
Utiariti
Bico calado

Toma cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí

Ei, quero-quero
Oi, tico-tico
Anum, pardal, chapim
Xô, cotovia
Xô, ave-fria
Xô, pescador-martim
Some, rolinha
Anda, andorinha
Te esconde, bem-te-vi
Voa, bicudo
Voa, sanhaço
Vai, juriti
Bico calado
Muito cuidado
Que o homem vem aí
O homem vem aí
O homem vem aí
Imagem: Jimw's

segunda-feira, 4 de junho de 2007

E por falar em delicadeza...




Por mais raro que seja, ou mais antigo,



Só um vinho é deveras excelente.



Aquele que tu bebes, docemente,



Com teu mais velho e silencioso amigo.


Mário Quintana

terça-feira, 29 de maio de 2007

Talvez no tempo da delicadeza...


Lembrei-me do Tom, o Jobim. O maestro soberano costumava ser compreensível com seus parceirinhos. No estúdio ou fora dele, entre notas e muito suor, entre Chico Buarque, Vinícius de Moraes ou seja lá quem for, quando achava algo errado nos acordes de seus parceiros, era muito sutil e delicado para mostrar o erro. "Você não acha que fica melhor assim?", perguntava Antônio Carlos Brasileiro Jobim, com a leveza dos pássaros que tanto amava.
É preciso muito cuidado, não só com as palavras, mas também com o tom, não o Jobim, mas o tom da voz. Além do mais, estamos aqui para aprender, ou alguém aí já nasceu sabendo? Como diria o poeta Carlos Drummond de Andrade: "Vida, aprendizado sem conclusão de curso". Eu, na minha jovem ignorância, assino embaixo!
E por onde anda a delicadeza? Pergunto aos leitores dessa página, sem a pretensão de conseguir resposta alguma de seu paradeiro. Pelo jeito que as coisas andam por essas paragens, a delicadeza resolveu partir, sem previsão de volta. Se eu fosse ela, também partiria para terras mais acolhedoras. Com o individualismo exacerbado e as intensas crises de solidariedade, as pessoas andam pensando muito pouco nas outras e vivem olhando para o próprio umbigo, como se esse vasto mundo girasse em torno delas. Palavras como humanismo, amizade, tolerância, humildade e compreensão fogem dos nossos dicionários como o diabo foge da cruz. Aliás, acho que até o diabo é muito mais jeitoso que muitas pessoas que andam por aí. Uma boa dose de tolerância e humildade para todos.

Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.
"Onde é que nós estamos que já não reconhecemos os desconhecidos" (leminski)


Linda fotografia: Ana Lontra.



sexta-feira, 25 de maio de 2007

"O meu amor faísca na medula" (C.D.A.)




Essa fotografia de Drummond inspirou a estátua em sua homenagem, em Copacabana. A foto da estátua, tirada por nossa correspondente no Rio de Janeiro, Marcella Pennylane Jacques, está no Eutanásia, com o título "Papo de Anjo".
Aproveito para deixar um poeminha de Carlos, para o possível deleite de vocês, leitores eutanásticos.


O seu santo nome


Não facilite com a palavra amor.
Não a jogue no espaço, bolha de sabão.
Não se inebrie com o seu engalanado som.
Não a empregue sem razão acima de toda razão (e é raro).
Não brinque, não experimente, não cometa a loucura sem
remissão
de espalhar aos quatro ventos do mundo essa palavra
que é toda sigilo e nudez, perfeição e exílio na Terra.
Não a pronuncie.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Pelo aniversário de 40 anos da morte do Che, publico novamente suas palavras...

"Devo dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é movido por sentimentos de amor. É impossível num autêntico revolucionário sem esta qualidade. Talvez seja um dos grandes dramas do dirigente; este deve unir a um espírito apaixonado uma mente fria, e tomar decisões dolorosas sem que nenhum músculo se contraia. Os nossos revolucionários de vanguarda têm de idealizar esse amor aos povos, às causas mais sagradas, e torná-lo único, indivisível. Não podem mostrar a sua pequena dose de carinho cotidiano tal como faz o homem comum."

É, o mundo está precisando de uma meia dúzia de Guevaras...

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Picasso desenha Rimbaud e Smita Maitra desenha Jim Morrison













"Une saison en enfer"

Pois, de repente, dei de cara com um livro de um escritor, até ontem, desconhecido por mim. "Rimbaud e Jim Morrison – Os Poetas Rebeldes", do norte-americano Wallace Fowlie, professor emérito de literatura francesa da Universidade de Duke, na Carolina do Norte é uma porta aberta para duas temporadas no inferno. Em 1968, o poeta do rock Jim Morrison escreveu para Wallace agradecendo pelas traduções da "Obra Completa de Rimbaud" para o inglês. Fã confesso da poesia do rebelde francês, Jim disse que levava a edição do livro para onde fosse com sua banda. No livro, Fowlie fala dos dois poetas dionisíacos, partindo de uma breve história de como ele foi de Rimbaud a Morrison até a influência do poeta francês nas letras e na vida do legendário roqueiro.
Fã de The Doors e do poeta Jim desde garoto, comecei a me interessar por poesia escrita aos 17 anos, quando me apaixonei por uma menina no colégio. Na época, ela era muito mais que uma Pamela Courson (Mulher de Jim). Então, precisava chamar a atenção dela de algum modo. Arrisquei alguns versos e, quando menos esperava, após declamá-los olhando para seus olhos, estava vivendo um romance. Acabou sendo um romance bem rock’n’roll, com direito até ao ódio ferrenho de seus pais.
Desde então, a poesia tomou proporções inimagináveis na minha vida, que passa longe de ser apenas uma "arma" para a conquista. Passei a me interessar cada vez mais por poetas e seus mundos ímpares. Pelo gosto pela poesia, sempre fui surpreendido por dicas de amigos, como a do Seu Tarcísio, pai do Fred, que me indicou a leitura de "Uma Temporada no Inferno", de Jean-Nicolas Arthur Rimbaud. Ele disse que eu iria gostar. Palpite feliz! Tiro certo! Adorei "Uma Temporada no Inferno" e outras coisinhas de Rimbaud que acabei achando pela Internet.
Por isso e por outras, fiquei surpreso ao me deparar com "Os Poetas Rebeldes", de Fowlie. Fiquei tão empolgado que acabei comprando mais dois livros para presentear dois compadres meus. Com as devidas dedicatórias, os entreguei já à espera do certeiro sorriso. Ao ler o livro, ainda resgatei uma rebeldia incontida que não experimentava desde os meus bons anos 90 onde, entre um trago e uma dose, cantava baladas como "Break on Through", aos berros, junto a Jim e meus comparsas.


Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.
"O poeta torna-se vidente através de um longo desregramento de todos os sentidos" Rimbaud

terça-feira, 22 de maio de 2007


Papo de Anjo


A Carlos Drummond de Andrade.

Quando nasci, um anjo gauche
Desses que vivem à sombra
Dos acontecimentos
Disse: "Vai, Daniel! Ser torto na vida".

Nunca mais me esqueci desse solfejo,
Que volta sempre a me embriagar.
Levo a noite no dia,
E, aos poucos, ao anjo obedeço.

A madrugada vira meu norte.
Quando o escuto, sou forte.
Menino, crente, devoto,
Vôo em frente, sem corte.


Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.

Imagem: Marcelinha Pennylane,
Correspondente Rio de Janeiro.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

"Vai, Toco..."



A dica deste final de semana não poderia ser outra. Toquinho se apresenta hoje, às 22 horas, no Chevrolet Hall. Os ingressos custam 50, 60 e 70 reais, com meia entrada válida para todos os setores. Toquinho se apresenta ao lado de Silvia Goes (teclado), Ivâni Sabino (baixo), Mutinho (bateria) e Vanda Breder (vocal). A grande parte do repertório é de músicas com seus parceiros ilustres, como Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Baden Powell, entre outros. Vale a pena conferir. Sabe-se lá quando ele voltará às Gerais.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Nocaute


Desde os primórdios da humanidade que os homens costumam se atracar. Seja por território, seja pelo motivo mais nobre do mundo – a mulher.

A palavra boxe deriva do inglês to box, que significa bater ou bater com os punhos. Essa expressão foi usada na Inglaterra até o século 19.

O boxe é também chamado de pugilismo. Derivado do latim, pugil significa “lutador com cestus”. Cestus era um conjunto de correias de couro, placas de ferro e chumbo usados pelos lutadores romanos. Pugillus significa punho fechado.
Nos séculos XVIII e XIX, na Inglaterra, os homens costumavam lutar sem luvas ou proteção qualquer. Mesmo sendo brutais, as lutas eram muito populares entre os ingleses. O boxe foi se espalhando pelo mundo a partir de 1920. Mas há indícios de sua existência entre os humanos desde 1500 a.C.

Dos pugilistas mais famosos, lembro-me agora de Joe Louis, Rock Marciano, Muhammad Ali, Mike Tyson, Evander Holyfield e claro, os heróis brasileiros Éder Jofre, Maguila e Popó. Éder Jofre foi campeão mundial dos pesos-galos quando nocauteou o mexicano Eloy Sanches, em novembro de 1960. Em 69, já na categoria dos penas, derrotou por pontos o cubano naturalizado espanhol José Legra, conquistando o título mundial da categoria. Éder, em toda sua carreira, conseguiu a marca de cinqüenta nocautes.
Adilson José Rodrigues, mais conhecido como Maguila, por causa de sua semelhança com o gorila personagem de um desenho de Hanna & Barbera, foi campeão mundial da categoria peso-pesado. Quem não se lembra dele? Figura caricata, Maguila já enfrentou vários bambambãs do boxe, muitas vezes caindo de cara na lona. Mas vá lá, ele tem seu mérito. Hay que ser mucho macho para enfrentar brutamontes como Tyson e Holyfield.
Medindo apenas 1,68 metro, Acelino Freitas, o Popó, é o nosso último herói dos ringues. Conhecido como Mão-de-Pedra, nasceu em Salvador e começou a lutar aos 14 anos. Consagrou-se vice-campeão pan-americano aos 19; em 2002, unificou os títulos da Organização Mundial e da respeitada Associação Mundial de Boxe. Hoje, anda mal das pernas, digo, dos punhos. Depois de reconsiderar sua aposentadoria, perdeu o cinturão para o norte-americano Juan Diaz, em abril deste ano.

Saindo do ringue tupiniquim e indo como um direto de direita para os grandes pugilistas internacionais, Mike Tyson é o mais conhecido, por sua selvageria dentro e fora dos ringues. Aos vinte anos de idade era o mais jovem campeão da categoria dos pesos-pesados. Mas em 1990, Tyson foi derrotado por James Buster Douglas, no 11º assalto, em uma luta histórica, na cidade de Tóquio. Depois disso, entre escândalos e prisões, entrou nos ringues para a decadência. Quem não se lembra da madrugada em que a fera arrancou com uma mordida, um pedaço da orelha do lutador Evander Holyfield? Teve que desembolsar três milhões de dólares e ainda perdeu a licença de lutar boxe em Nevada, EUA. Sem contar os processos por assédio sexual.
Agora, se for para falar de grandes lutadores mesmo, sou obrigado a recordar dois, mesmo que eu não os tenha visto lutar. Em 1952, Rocky Marciano protagonizou uma das maiores lutas da história do boxe, derrotando Jersey Joe Walcott e conquistando o título mundial. Mesmo quase cego, por causa de um coágulo cáustico que havia escorrido para os olhos, devido, é claro, a uma luta anterior, Marciano finalizou seu oponente com um direto de direita; o mais famoso da história do esporte. Rocky nunca foi derrotado nas suas 49 lutas como profissional; porém, como amador, beijou a lona diversas vezes.

Para finalizar minha primeira crônica esportiva, antes que eu seja nocauteado pelos leitores, chamo a atenção de todos para lembrar Cassius Marcellus Clay Jr., mais conhecido como Muhammad Ali. É considerado, por muitos, o maior pugilista de todos os tempos. Ficou conhecido não só pela maneira ímpar de lutar, mas pelas suas posições políticas. Quando mudou seu nome, ao se converter ao islamismo, lutou bravamente contra o racismo. Hoje, Muhammad sofre de uma doença similar ao Mal de Parkinson, denominada "parkinsonismo do pugilista". É válido lembrar que ele, em uma luta contra Ken Norton, em 1973, suportou 12 assaltos com o maxilar quebrado.
Peço perdão a todos aqueles que deixei de mencionar, inclusive um número grande de mulheres da pesada que, recentemente, aderiram ao esporte. Mas soou o gongo e eu preciso pular fora desse ringue, antes que eu saia daqui de maca. Um jab carinhoso para todos e até a próxima luta.

Daniel Rubens Prado.
Outono de 2007.


Foto: Stewart`s Booth, 1950.

Joe Louis durente uma luta de boxe contra Max Schmeling, em junho de 1936.
Havia poesia no pugilismo.
Foto: World Telegram staff photographer

sexta-feira, 11 de maio de 2007


Bate outra vez...

Angenor de Oliveira, o Cartola, nasceu e morreu em um domingo de primavera. O poeta do morro foi o fundador da escola de samba Estação Primeira de Mangueira e compôs mais de quinhentas canções, entre elas As Rosas não Falam e O Sol Nascerá. A última em parceria com Elton Medeiros.

Passou a vida trabalhando como servente de pedreiro, lavador de carros, pintor de paredes, entre outras profissões que passam longe do seu dom, o de compor músicas belíssimas.

Essa semana é a última chance para assistir, no cinema, o documentário Cartola – Música para os Olhos, de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. De encher os olhos d’água e poesia. Em cartaz no Belas Artes 1, às 16 horas.

quarta-feira, 9 de maio de 2007


"nisso eu sou primário

amor pra mim

vem do caralho",
disse leminski.


E Alice, sua esposa, respondeu:

"nisso eu sou careta


amor pra mim


vem da buceta"
Imagem: The lovers II,
by Magritte, René
1898 - 1967

sábado, 21 de abril de 2007


Viagem de Outono

Ares estrangeiros,
Corações náufragos,
Na ventania, nos nevoeiros.

Trágicos, inocentes,
Buscam as folhas secas
De velhos Outonos.

E no farfalhar das folhas,
Zumbem saudades,
Resgatando outras,
Antigas estações.




Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.
"Quando eu piso em folhas secas..."
Fotografia: Autumn Leaves 2,
Por Chris Neale