quarta-feira, 25 de julho de 2012

PELE

Sobrevivo, viro esquinas, pulo poças
uma lâmina de água e sou eu
refletido inúmeras vezes, numa quase perfeição.

em primeiro plano, meu pano, meu engano
a nítida imagem, insensata palidez
o maior órgão, a capa, o couro, a tez

me dás calor, protejas meu segredo
sejas meu castelo, minha cama, meu império
minha arma, irmã, meu desejo

mas me rusgue na hora exata
me rasgue na hora exata
rompa-me na hora exata

e serei eu, somente eu, naquilo em que estiver
a ver ti, fétida, se tornar homogênea frente ao solo
a nutrir e ser útil, como sempre se propôs a ser .
Poesia: Bruno Sales.
Imagem: Crissant.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Lágrima: a cor de um sentimento


As más notícias vêm a cavalo! Era inverno. E o frio não era maior pela estação do ano ou pelo vento que parecia querer arrancá-lo pela janela do apartamento e depositá-lo 14 andares abaixo. Na verdade, o frio era como uma inoculação súbita de um sentimento vazio três dedos abaixo da ponta do osso esterno. Era um frio psicológico que gela o sangue a partir do coração.
No momento em que começa, o ritmo cardíaco deixa de fazer sentido. Veias e artérias passam a dar vazão ao líquido gelado que se espalha pelo corpo. Uma notícia assim sempre chega à noite. Céu parcialmente nublado, pouca ou nenhuma estrela. - Que idiota! - brada consigo num diálogo interior. Ele não se senta na poltrona que agora parece mais funda e ainda menos acostumada ao seu corpo que, neste exato momento, assume formas estranhas com tensões novas em músculos que nunca tinha sentido antes. É o sangue que, ainda frio, pressiona as glândulas lacrimares que vertem o mar de dentro dele.

É transparente o amor não correspondido.