Lençol branco
Manias. Tinha muitas.
Cidinha acordava cedo, escovava os dentes e religiosamente, com o hálito fresco, voltava para cama sem frescura. Toda jeitosa, beijava-me debaixo do lençol branco.
- Bom dia, meu amor – dizia com um sorrisinho meio de lado.
Saía de casa sorrindo. Trabalhava feito burro de carga e não desanimava. Quando chegava em casa, lá estava ela. Pronta, sedutora como sempre.
O frango na mesa. Quando não vinha com a ave, um bife de boi temperado e um arroz piemontês. A cerveja gelada. Dava um gole e me passava a garrafa. Enquanto bebia, se roçava em mim. Não dava trégua. Nem eu queria.
Cerveja de lado. Trepávamos ali mesmo. Corpo exaurido. Fome repentina. Comíamos e depois fumávamos, escornados nas almofadas da sala de estar.
Sonolentos, em direção do quarto. Não tinha tempo para mais nada. Leituras, televisão. Nem mesmo o programa de futebol no rádio.
Dormíamos. Eu para um lado. Ela para o outro.
De manhã, sob o mesmo lençol branco, ela me acordava.
E com a boca me comovia.
Mania. Tinha muitas.
Daniel Rubens Prado,
Outono de 2007.
Outono de 2007.
Imagem: Residue.
By Rosemarie Chiarlone
Um comentário:
Delicadíssimo...
Adorei!
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