domingo, 27 de setembro de 2009

As paredes da minha casa

As paredes da minha casa são brancas
São incrivelmente brancas pintadas de cal.
Cal virgem; queimado com água,
E pintado com brocha.

Duas paineiras imponentes e belas
Dão cor e vida à minha casa.
No verão, verde e sombra.
No outono, duas sentinelas.
No inverno, flocos de paina.
Na primavera?
Ah! Na primavera, as paineiras
E as paredes brancas da minha casa
Tornam-se rosas.


Poesia: Carlos Niquini.
Imagens:
Sandra Nunes.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Sempre desejei beijo de puta
Roto homem que sou
As via esquinas
vias ruelas
calçadas povoadas de justas
calças brilhantes
salto alto bustiê

Sempre desejei beijo de puta
Antes mesmo de tê-las
Nuas
cigarro entre os dedos
indicador e aquele que indica
onipresente – o caralho
vaivém de fumaça e bicos
dos seios
vermelhos rubros quebrados

Sempre desejei beijo de puta
por sabê-las intocadas
alma bruta vaga
mulheres sem nome
endereço ou
parentesco
janelas sem violetas
vidas feito essa
a minha
de remendos.
Texto: Val Prochnow.
Imagens: Pixel Welten - Smoking Babes.

sábado, 5 de setembro de 2009

EM OUTRO ANDAR


Dentre todos os momentos ao longo de onze anos, mais um fica guardado em nossa extensa memória. Claro que, desta vez, havia uma conotação diferente. As emoções eram dolorosas, já inesquecíveis e tão saudosas. Assim como todo o cenário em que éramos acolhidos.

Os quadros já não estavam mais dependurados. Os móveis já se encontravam vazios. As plantas prontas para embelezar um novo ambiente. A brisa gelada indicava o início de um inverno destemperado. Mas estávamos sorridentes. E o mais importante, entre amigos!

Muitas vezes recusamos a entender certos acontecimentos. Tentamos lidar com o menor amargor possível. Damos a cara à tapa para os fatos, tentando enfrentá-los como bárbaros guerreiros. Mas hoje, nada se resolve na ponta da espada.
A vida é provida de mel e de muitos ferrões. A dor é constante, assim como o prazer de viver. Inconscientes, seguimos nossos princípios, herdados de quem nos criou e nos concedeu amor. E é vivendo a vida com coragem que vencemos barreiras.
É preciso ter cuidado. Mas, mesmo assim, distraídos ainda somos mais felizes.

Ah, quanta boemia naquela varanda... Quanta poesia, amor e alegria plantados em inúmeras pessoas. Quantos corações dilacerados e também reencontrados, quantos flertes, quantas confissões e lágrimas foram derramadas por ali. Que a futura família consiga semear um pouco desta riqueza, desta doçura, desta história.

Não restam dúvidas que a pureza destes momentos servirá de lição. E como toda e boa dedicada nação, de maneira alguma, isso terminaria em vão. Afinal de contas, P4* não era uma armação, sempre foi praticado e seguido como uma religião.

O P4 termina, mas não acaba. Aliás, nunca acabará! Estará guardado para sempre, em vários amores, infinitas amizades, inúmeras famílias.

E, quem sabe, renascerá em outro andar?

(Por que não?)



Texto: Leonardo Deoti, em 02 de maio de 2008.
Imagens: Daniel Rubens Prado.

* P4 foi um lar para muitos. Um apartamento no colo da Serra em que vários amigos de eutanásia beberam, sorriram e choraram. Viveram bons momentos, sabendo que felicidade, quando é boa, é partilhada.

EM MEMÓRIA DE EGLY FORTES DE SOUZA.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Volta


toda a força para manter
vivo
e de repente o amor se vai

fica a saudade
a paz vai embora
e a felicidade

volta
traz minha vida de volta
ou fica logo com esse pedaço
com esse bagaço
que é seu




Texto: Bella Grossi
Imagem: Retrato de Natasha Nesterova (On a Garden Bench),