sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Desconhecido


Você não me conhece nos seus lábios de alumínio
Não me vê debruçado sobre os volantes rasgando a noite
- destroçando estações, todos os leões de mármore da noite
Não me conhece, enquanto escuto os assassinos urrando
Dissolvendo em ásperos amanheceres minhas saudades
Você nunca me viu em chuveiros enquanto soluço o álcool das suas veias
sobre o teu torso de apolo eu te apunhalo com as pombas e cílios
- depois de cada gozo você não me conhece nos viadutos
nunca mesmo nem me imaginou nas nuvens caldalosas dos meus oceanos
é como se sozinho fosse como brisa morta, soprando
soprando aquelas algas mortas que pisei e onde você estava?
Na sala de cinema suas mãos não passam de súbitas lâminas
enquanto eu via o mar eu via as ondas eu via as conchas
meus sonhos de calcário se tornando sólidos na solidão dos seus pés
ligações muito mortas, você não me viu dormindo abraçado com o ar
Você não sabe como são meus olhos pousados sobre o mar
só os conhece perdidos no suor surdo da sua pele
Não conhece o peso do meu coração, o engrossar imenso do meu sangue
- o que eu sei é das suas luzes arqueadas no santa tereza
- o que eu vi foi sua boca se partindo em duas praças à meia-noite
- engolindo a espinha dorsal da serra sem fim, nossa curva sem fim
Poesia: João Tonucci.
Imagem: M.C. Escher,
Print Gallery, lithograph - 1956.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito desse post e seu blog é muito interessante, vou passar por aqui sempre =) Depois dá uma passada lá no meu site, que é sobre o CresceNet, espero que goste. O endereço dele é http://www.provedorcrescenet.com . Um abraço.