sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007




Amor Platrônico


Levantou-se logo cedo e se instalou à frente do computador. Tinha os olhos latejantes e o coração cheio de saudade. Às sete da matina começavam a surgir os primeiros contatos. Observava atentamente cada janela que subia do canto direito, em baixo. Sua alma gelava a cada coincidência gráfica, mas não era a vez – nunca foi, talvez. O nome que esperava adormecia em vermelho. Ela o acariciava qual acalanto, mas seu desejo era despertá-lo, cuidadosamente, para lhe dizer o quão bonito estava o dia. Sentia-se bem assim, na falsa intimidade nostálgica do sono da manhã.
Sentia fome, já passava do meio-dia. E nada, nada. Foi até a cozinha, abriu a geladeira e retirou o prato frio que recusara na noite anterior. Deu duas garfadas e engasgou quando ouviu o sinal sonoro de alguém que a chamava – Era só uma amiga. Não respondeu. Guardou o prato novamente e voltou a esperar, sempre com os olhos fixos naquele ícone rubro. Pensava no que ele poderia estar fazendo. E se ele só existisse quando estava on-line?
Exatamente às cinco horas e quarenta e três minutos ele apareceu. O coraçãozinho dela disparou, suas mãos suavam. Ajeitou seu corpinho na cadeira, massageou o rosto e arrumou rapidamente o cabelo. Abriu a caixa de diálogo, mas sabia que não teria coragem de escrever. Para ela bastava contemplar a foto estampada na tela. Era como se ele estivesse na sua frente, vivo. De repente gargalhou quando leu o que ele escreveu na frente do nome. – Que legal, ele está de bom humor hoje! Disse ela, radiante. Achava que o conhecia mais do que ninguém.
De súbito, sentiu uma coisa estranha por dentro. Aquilo não era normal. Uma coragem sem tamanho tomou conta de sua alma. Decidiu que naquele dia era falaria tudo que estava guardado há tanto tempo. Não sabia por onde começar. Com as mãos espalmadas no teclado, ela pensava nas primeiras palavras. Com os olhos grudados nas teclas que ela escolhia com tanto carinho, digitou uma linda frase. Titubeou alguns segundos antes de teclar enter.
Quando ergueu a cabeça para conferir a reação de seu amado ele ali já não estava. Tudo aquilo que escrevera agora não passava de palavras pregadas em uma tela fria. Consternada, enxugou a única lágrima escorrida do seu olho. Sentiu certa raiva. Mas logo se acalmou e se afundou novamente na cadeira. O tempo não é problema para ela.



Texto: Fred Tonucci.

2 comentários:

Anônimo disse...

noooooooosssaaaaaa frede, me superidentifiquei...hahahaha...quantas vezes isso já aconteceu comigo...é parece que vc anda entendendo mesmo da alma feminina... Muito bom o projeto eutanásia...ADOREI

Anônimo disse...

lindo, muito bom ler seu texto..