terça-feira, 6 de fevereiro de 2007


As meninas do terraço


As meninas do terraço se divertem. Julia, Lúcia e uma amiga brincam de esconde-esconde. Porém, na brincadeira de esconder, as meninas contam até dez. No meu tempo de brincar, na minha infância interiorana na cidade grande, que nem era tão grande assim, contávamos até cem. Volta e meia até estendíamos um pouco, para dificultar a procura.
No alto do prédio vejo as meninas que brincam cercadas entre as linhas estreitas que percorrem os ponteiros. O tempo é escasso. Há pouca liberdade para os olhinhos pequenos. Mas no entanto, escuto vozes cheias de esperança. Esperança de tempos melhores e livres.
Enquanto escrevo na tela pálida do meu computador, escuto os pequenos passos galopantes e os gritos de extase das três meninotas. Há alegria. A diversão no mundo da imaginação é garantida. Mesmo que daqui, a alguns metros de distância do terraço, um suposto poeta construa uma prosinha em homenagem a pobre infância das menininhas. Pobre de espaço, pobre de tempo.
Um grito de Júlia rompe a monotonia do começo da noite. Talvez tenha encontrado Lúcia e a amiga escondidas no mesmo lugar, em um tempo recorde. Achei aquilo divertido e quase fui lá brincar com elas. Mas provavelmente elas achariam estranho. Além do mais, sou grande demais para caber em qualquer lugar naquele terraço.
Depois, o silêncio tomou conta da noite sem lua. A mãe das garotinhas deve tê-las chamado para a janta. Nada mais divertido que uma sopa de letrinhas depois do esconde-esconde.



Daniel Rubens Prado,
Verão de 2007.

Imagem: Clock end Key,

By Jin Wicked

Mais no http://www.jinwicked.com/art/

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