segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007



POEMA SAÍDO DO ARMÁRIO

Ninguém para me escutar, bem no choro do meu grito mais surdo
Quando saberão de mim, do Outro que ama além, que sonha que ama?
Expulso de casa, sem vergonha e amigos, caminharei com minha mochila
Entre estrelas solitárias, meus amores brilhando ao meu redor
A vida que eu sempre quis, longe das paredes frias dos consultórios
Médicos, parentes, professores, burocratas & policiais me perseguem
Fujo para longe, North Beach, Ilha do Bananal, fossa dos oceanos
Onde me afundo em prazeres ocultos e profundamente adormecidos
Meus poemas escondidos, já serão então lidos por cada garoto medroso?
Cada cu tremendo de pavor na paralisia das horas do genocídio do amor?
Bocas mordendo lábios nos banheiros abandonados do Parque Municipal?
Enquanto isso somente a tristeza das minhas linhas, nenhuma platéia
Para minha auto-análise e exorcismo público ao som da macumba
Nenhum orelha limpa e ombros amigos pra desperdiçar meus segredos
Fujo então, na minha solidão deliciosa dos sonhos despedaçados
Pelo despertador do sol – maldito monstro que persegue os boêmios
Escuto Cazuza, converso com amigos amados que nunca saberão de nada
Até minha morte trágica, vislumbro o funeral, quem estará lá?
E então meus versos confessos serão lidos, veado desgalhado
O caixão baixará entre rumores e fofocas – estarei me deliciando
Acariciando coxas dos Anjos do Paraíso, fumando tudo em PassárgadaE rindo com fôlego do olhar de espanto das madames e seus cachorrinhos!

Jon Tonucci

imagem:

Stars Falls, Alexander Lyamkin

oil, canvas panel

Um comentário:

Anônimo disse...

finalmente li uma poesia do 'nosso' prodigioso jon; confesso estar assustada e nao menos maravilhada.
quero mais!!