quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007


O náufrago

Avenida Amazonas. Primeiro quarteirão.
O homem se curvou diante de uma das palmeiras, fechou os olhos e deu a primeira golfada.
Eu, com o café quente em punho e uma ressaca daquelas, observava de longe todo aquele mal-estar. Os transeuntes não o viam. Nem olhavam.
Ele começou. Vômito. Vômito atrás de vômito.
Ali, no centro da cidade, mais um ser naufragado em suas desilusões.
Busquei um copo de água bem gelada e me aproximei.
Ele me encarou.
Seus olhos lacrimejavam. Ofereci-lhe o copo. Ele aceitou. Deu um gole fundo. E me disse, com um jeito de pesar:
- Estava no INSS. Minha senha é 353. Não agüentei esperar.
Perguntei se queria que eu chamasse uma ambulância. Disse que não precisava:
- Vou ligar para o meu filho. Ele virá me buscar.
Desejei sorte e voltei para o ar condicionado da repartição pública onde trabalho.
A vida continuou.
Lá fora.

Daniel Rubens Prado,
Verão de 2007.



Imagem: Tirada do site www.fotosearch.com
Autor desconhecido.

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