terça-feira, 13 de fevereiro de 2007


Morre o Homem, fica a fama?

Diante das recentes notícias que invadiram nosso cotidiano, sobre os problemas acerca do aquecimento global e seus possíveis desfechos, coloco-me na pele daqueles que pensam e se preocupam sobre como serão lembrados depois que a carne de seus corpos apodrecerem, exibindo a caveira com a mandíbula escancarada – a caveira que um dia exibia um sorriso largo e satisfeito; e as órbitas vazias onde os olhos, altivos e orgulhosos, lançavam raios de superioridade sobre os pobres miseráveis indignos de compaixão. E penso sobre como tais reis as recebem, as digerem; na náusea que contamina seus estômagos - suco gástrico subido à língua -, quando observam a possibilidade da morte, de sua morte, a de seu mundo, a de todos.

Penso também naqueles pobres homens que fazem de sua riqueza artifício único para justificar sua existência. E naqueles criativos seres que se acham imortais somente pelo fato de serem reconhecidos por todos, pelo mundo inteiro, seja lá qual for o motivo. Na maioria das vezes, o pior possível. Eles imaginam suas ausências supridas por um nome numa estrela dourada pregada no chão. Inflam-se de orgulho e trabalham incessantemente para serem celebrados por seus feitos extraordinários. Por todo sempre, eternamente.

Morre o homem, fica a fama?
O ser humano, contemporâneo desse medo terrível, pior ainda do que aquele outro - sim, o da própria morte -, encontrará conforto para a alma depois da notícia aterradora de que não será lembrado por ninguém, assim como aquele mendigo do banco da praça ou aquele malandro perambulando pelas ruas atrás de cachaça? Por quê? Fácil. Não sobrará ninguém para apontar seu retrato na parede, dizendo: “Olha, filho. Ali está seu parente, pessoa que nos deixa orgulhosos por compartilhar seu sobrenome conosco”.

Quem sabe tal notícia os cure, enfim, dessa cegueira anunciada há tanto tempo. E, na intensidade de suas angústias, os desperte para uma nova vida, a única vida, a vida deles - com começo, meio e fim. E, que dessa maneira, saiam pelas ruas como quem caminha pelas trilhas do passado, buscando concertar toda cagada que fizeram e que, somente agora, recente nos seus narizes, antes entupidos pelo próprio ego.


Fred Tonucci.
Foto: Empty frame,
By Andross.

2 comentários:

Anônimo disse...

A maneira com que "costurou" seus pensamentos e sentimentos foi fantástica! Penso que quando o lemos um texto e sentimos as palavras saltarem das páginas ou telas de computador e se materializarem em sensações reais (como quando você cita o suco gátrico em seu texto), o autor chegou ao seu objetivo. Ótimo texto, Fred!

Corujinha Bebelôs disse...

Fred! Meu amigo!! Lindo o texto! Estou muito orgulhosa de vc!! Parabéns!!