terça-feira, 23 de janeiro de 2007

De pastéis e sambas

Márcia trabalha em uma lanchonete no centro da cidade. Serve os pasteis mais deliciosos da região central. Além de boa na arte, é uma delicadeza em pessoa. Sempre quentinhos, feitos na hora, têm um sabor angelical. Pois sim, Márcia talvez seja um anjo do baixo Belô – assim chamamos o centro de nosso Belo Horizonte. Em meio ao caos do dia-a-dia de uma cidade grande, ela sorri e nos serve como poucas fariam.
Na semana passada, ao deliciar-me com uma de suas especialidades, o legítimo pastel napolitano, começamos a conversar um pouco sobre as coisas boas da vida.
- O que você faz quando não está trabalhando? – perguntou-me com certa curiosidade.
Disse que geralmente bebo cerveja com os amigos e que freqüento algumas rodas de samba, além de gostar de outros estilos e etílicos.
Por coincidência ou não, disse também gostar de samba e claro, de uma cervejinha gelada após o expediente. Até segunda ordem, somos todos filhos de Deus, não é?
Continuei indo à lanchonete, como costumo fazer diariamente. Há dias em que troco os pasteizinhos por um sanduíche natural, apenas para aliviar minha consciência cheia de gorduras e outros “males” boêmios. Mas, pelo menos três dias da semana (adoro números ímpares) peço a promoção dos pasteis e um cafezinho bem forte, para acompanhar o digestivo filtro vermelho.
Na última quarta-feira, fiquei sabendo, por intermédio de Márcia, que existe um “sambinha” no Mercado Distrital do Cruzeiro, bairro vizinho ao meu. Combinamos uma sexta-feira à noite, na esperança de sorrisos largos, samba no pé e claro, doses cavalares de alegria e descontração.
Saí do trabalho com muita sede. O verão vem nos castigando com chuvas torrenciais, mas nesta sexta em particular, o sol apareceu sozinho, sem suas nuvens carregadas de mau agouro. Não pensava em outra coisa, a não ser na Brahma gelada do bar à primeira vista.
Não poderia ser diferente. Liguei para o Poeta de São Miguel, parceiro e amigo querido, e fomos a um bar que serve comida árabe, chamado Bar do Toninho. Um boteco simples, mas que vende a cerveja mais gelada da região, além de tira-gostos de primeira. Ficamos ali. Conversávamos amenidades de todos os tipos até que chegou o assunto samba. Lembrei-me de Márcia e da sexta-feira no Mercado. Peguei meu telefone, disquei o seu número, mas ela me atendeu de um outro bar, sem pastéis ou samba no pé. Não deu em outra:
- Boa noite, Marcinha. Fica para a próxima.


Daniel Rubens Prado,
Verão de 2007.
“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é...”




Imagem: Samba. 1925.
Óleo sobre tela. 175 X 154
Emiliano Di Cavalcanti
Rio de Janeiro, Brasil

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