segunda-feira, 31 de maio de 2010

MINHA CONFISSÃO


Não pude trazer ternuras
para enfeitar os teus olhos,
nem bondade, nem carinho
para a tua mocidade.
As minhas pobres palavras
são modeladas de acordo
com a vida em que me criei.
Por isso não sei dizer
as palavras (talvez inúteis!)
pra fazer teu coração
bater, depressa, de amor
e acender nos teus olhos
o brilho da alegria.
Sou bruto. Sei machucar-te.
Dá-me tuas mãos! Vou quebrá-las!
Quero morder os teus lábios,
apertar com força teus seios,
dizer-te bem alto: quero!
E depois, quando chorares,
direi, do canto do quarto,
vendo teu corpo ferido:
- teu choro não tem razão...
E de encontro à parede
quebrar-te-ei os ossos
até ver o corpo
desarticular-se!
Sou filho de gente bruta!
Minha ternura não serve!...
Confissão: Clemente Luz.
Imagem: Arquivo Correio Brasiliense.

5 comentários:

Val Prochnow disse...

lindo, lindo, lindo! deliciosa leitura, delicioso poema...! amei!

Anônimo disse...

Grande descoberta essa, senhor Fernando Luz. Clemente entrou para a minha lista de poetas maiores da língua portuguesa.

Um grande abraço do fã e amigo,

Daniel Rubens Prado.

Unknown disse...

Clamemos, Clemente!

b'slt disse...

E que dizer de quem gosta de chorar
e ser quebrado
em mil pedaços
gente na vida
quer de tudo!
uns a construção
outros a quebra

Assessoria de Comunicação disse...

Olá Clemente,

Adorei. O texto tem gosto de "quero mais".

Staël Gontijo