sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Limoeiro


Cuidar de limoeiro é arte.

O limoeiro é turrão.
Vigora-se por pedregulhos;
Claudica-se pelo chão.
Se recebe muita água, torna-se pomposo;
E, de teimosia, retarda os frutos.
Se não recebe água, sufoca-se em cochonilhas.
E por desnutrição, também retarda os frutos.
Um limoeiro é fiel em seu compromisso de dar frutos.

O limoeiro é independente.
Gosta de crescer livremente, sem podas.
Só aceita corte dos galhos cruzados.
Tolera a poda de galhos indesejáveis.

Lidar com o limoeiro é como conviver com gente teimosa:
Ou você o deixa de lado ou enfrenta-o em toda a sua teimosia.

Se o deixar de lado, um dia dará frutos, no tempo dele.
Nunca dará frutos no tempo de expectativa dos outros.
O limoeiro é fiel em seu compromisso de dar frutos.

Se decidir enfrentá-lo, terá que fazer isso com competência.
Ele gosta de ceifa, para abrir-lhe as seivas:
O medo de morrer sem reproduzir-se o faz apressar-se em dar frutos.
Se a ceifa for muito forte, ele se machuca; magoa-se, retrai-se;
E, novamente, retarda os frutos.
Um limoeiro é sempre fiel em seu compromisso de dar frutos.

O limoeiro é forte.
Sobrevive em jardins desmazelados;
Vinga em quintais de pobres e miseráveis;
Suporta o zelo demasiado das madames;
Contudo, mantém-se fiel em seu compromisso de dar frutos.

O limoeiro é intrigante.
Espeta-nos com tenacidade;
Dá-nos sumo calmante.
Nasce de sementes jogadas ao acaso;
Vinga-se também por plantio planejado.

No meu quintal tem um limoeiro.
Não sei se nascido ao acaso;
Não sei se de plantio planejado.
Só sei que nos confundimos no viver:
Temos essência de perfumes e licores
Escondidos entre espinhos e sumo amargo.
Texto: Léssio Nunes.
Imagem: O Grande Limoeiro, de Fernando Campos.

5 comentários:

Anônimo disse...

Léssio,

esse seu poema é maravilhoso. Recebi inúmeros elogios de pessoas que leram. O problema é que as pessoas não têm o hábito de deixar comentários. Eu, particularmente, amei. Você escreve muito, companheiro. O Projeto Eutanásia está de portas e janelas abertas para você e todo o seu lirismo.

Grande abraço,

Daniel Rubens Prado.

Val Prochnow disse...

lindo, particularmente me toca esse tipo de temática.. adorei sua estreia, venha sempre [e mais]

jacinto leal disse...

Meu limão meu limoeiro meu pé de jacaranda , isto me faz lembra da infância e de nossos velhos quintais nos finais de tarde , hoje tenho em meu quintal um pé de limão galego que só produziu após apanhar de uma chuva de granizo e nunca parou de produzir , porem, ao longo do tempo sofreu um ataque de cupim e ainda assim continua a produzir bons frutos, mas seus dias estão contados como tudo que nasce um dia a de modificar-se na eterna roda do ir e vir e em seu lugar plantarei outro e outro até que cheque minha vez de ser corroído pelo cupim que tudo transforma . Deus nos dá a dimensão de um pé de limão nos planta e depois colhe e o que fica são frutos , seu poema é a tradução da vida .

jacinto disse...

perdão pelos erros de ortografia no meu comentário anterior ,pois enviei se conseguir fazer as correções , se for possível faça por mim.

Marilia Castello Branco disse...

Cheguei,
procurando dicas de jardinagem
para o meu galeguinho teimoso
e achei..
obrigada, é lindo e me comoveu! Limões da alma...