sábado, 5 de setembro de 2009

EM OUTRO ANDAR


Dentre todos os momentos ao longo de onze anos, mais um fica guardado em nossa extensa memória. Claro que, desta vez, havia uma conotação diferente. As emoções eram dolorosas, já inesquecíveis e tão saudosas. Assim como todo o cenário em que éramos acolhidos.

Os quadros já não estavam mais dependurados. Os móveis já se encontravam vazios. As plantas prontas para embelezar um novo ambiente. A brisa gelada indicava o início de um inverno destemperado. Mas estávamos sorridentes. E o mais importante, entre amigos!

Muitas vezes recusamos a entender certos acontecimentos. Tentamos lidar com o menor amargor possível. Damos a cara à tapa para os fatos, tentando enfrentá-los como bárbaros guerreiros. Mas hoje, nada se resolve na ponta da espada.
A vida é provida de mel e de muitos ferrões. A dor é constante, assim como o prazer de viver. Inconscientes, seguimos nossos princípios, herdados de quem nos criou e nos concedeu amor. E é vivendo a vida com coragem que vencemos barreiras.
É preciso ter cuidado. Mas, mesmo assim, distraídos ainda somos mais felizes.

Ah, quanta boemia naquela varanda... Quanta poesia, amor e alegria plantados em inúmeras pessoas. Quantos corações dilacerados e também reencontrados, quantos flertes, quantas confissões e lágrimas foram derramadas por ali. Que a futura família consiga semear um pouco desta riqueza, desta doçura, desta história.

Não restam dúvidas que a pureza destes momentos servirá de lição. E como toda e boa dedicada nação, de maneira alguma, isso terminaria em vão. Afinal de contas, P4* não era uma armação, sempre foi praticado e seguido como uma religião.

O P4 termina, mas não acaba. Aliás, nunca acabará! Estará guardado para sempre, em vários amores, infinitas amizades, inúmeras famílias.

E, quem sabe, renascerá em outro andar?

(Por que não?)



Texto: Leonardo Deoti, em 02 de maio de 2008.
Imagens: Daniel Rubens Prado.

* P4 foi um lar para muitos. Um apartamento no colo da Serra em que vários amigos de eutanásia beberam, sorriram e choraram. Viveram bons momentos, sabendo que felicidade, quando é boa, é partilhada.

EM MEMÓRIA DE EGLY FORTES DE SOUZA.

6 comentários:

Bruno Sales disse...

É, deu saudade.
Em qualquer hora, éramos recebidos com o coração e a geladeira cheios, de alegria, muita cerveja gelada e tira-gostos inimagináveis madrugada a fora.
Deu saudade.

licio daf disse...

quantas noites e madrugadas de viola, conversas na sacada, bebidas na sala, poesias e garrafas espalhadas?
duas vezes derramei vinho no sofá e ouvi meu amigo dizer: “alguém foi feliz aqui”

Aninha disse...

O aperto no meu peito, as lágrimas que desceram, aquele nó na garganta ao ver foto linda que marca as silhuetas daquilo tudo que era tão nosso, porque ela fazia assim. E filho de uma boa anfitriã, bom poeta é. Que saudade doída, mas sei que é porque foi bom. Obrigada Leo, por reviver essa saudade dentro de mim. Beijos.

Anônimo disse...

P4

P4 que me entreguei,
P4 que me perdi,
P4 que me encontrei.

P4 de muitos amigos,
P4 de muitos amores,
P4 cheio de paixão.

P4 com poesia,
P4 enluarado,
P4 embriagado.

P4 simplesmente.

P4 da Serra.
P4 da Egly.
P4 do Poeta.



Cheio de agradecimento... do amigo e frequentador (mais q assiduo),
BG.

Anônimo disse...

Que saudade...

Isabella Grossi disse...

põe saudade nisso.
lindo, deoti!