quinta-feira, 14 de maio de 2009

Todo cuidado é pouco

Para June e Ackel Bracks.

Festa de aniversário de um amigo.
Desses com jeito de irmão.
Com quem a gente gosta de estar sempre junto.
Para aproveitar o calor humano, a cordialidade e o afeto que (ainda) existem neste mundo.
Era domingo.
Dia justo para se ficar à toa na vida. Assim, em vez de filosofar sobre política, futebol e mulheres (mulheres, vírgula, porque a dele, encantadora e vivaz, estava presente; na verdade, era a anfitriã), decidimos dedicar o tempo disponível ao consumo desbragado de cervejas.
Vim preparado. Preventivo como nasci, compareci a bordo de um táxi, cuja placa terminava em “13”.
Assim como as mudanças de temperatura são a maneira mais fácil de dois idiotas começarem uma conversa (vide Dostoiévski), os números também servem para abrir um diálogo. Ainda mais quando o número corresponde ao Galo no jogo do bicho. Razão de o infeliz motorista, atleticano terminal, chorar no trajeto todas as suas pitangas alvinegras. Logo comigo, americano sofredor de papel passado. Lavei minha alviverde alma, ao descobrir que, em matéria de sofrimento, a concorrência tá brava.
Feito este hiato esportivo, voltemos à encharcada festa.
Nem em eleição de miss haveria tantas candidatas desfilando nas bandejas. Os garçons, mais ligeiros que o Barrichello, traziam as cervejas em cascatas. De todas as marcas, de todas as procedências, de todos os formatos, de todas as cores – claras, loiras, ruivas e pretas.
Acompanhadas de tira-gostos dignos de prêmio hors concours no Comida di Buteco. Tão gostosos que este Melchíades, que não troca carne-moidinha-com-quiabo por salmão nem caviar, comeu até aqueles tribufus da cozinha (?) japonesa.
Um dia, um domingo, uma festa de não se esquecer.
Não se esquecer mesmo, porque esqueci um sábio conselho que minha mãe me deu no raiar da minha mocidade: “Meu filho, mulher loura de olho verde é coisa do capeta. Fuja delas”.
Não obedeci. Nem fugi. Entreguei-me, sem moderação, à loura que vinha nas garrafas verdes. Pior, para falar a verdade, a danada nem loura era.
Era ruiva. Jesus na cruz!
Saí, enfim.
Ou melhor, fui levado da casa do amigo em estado horizontal.
Mamãe, como sempre, tinha razão: ruiva de olho verde é coisa do capeta.
Mas tão gostosa...

Texto: Melchíades Cherubino
Imagem: Propaganda da Brahma publicada na revista fon-fon de 1910.
Imagem 2: Propaganda da Antártica publicada na revista Arara de 1907.

2 comentários:

licio disse...

hoje é dia de Cruzeiro na Libertadores.
Melchíades, não sobrou uma dessas ai não?

Aninha disse...

Ei Melchiades querido, delicia de domingo heim: Melhor ainda seus textos. Amo sempre! Depois passe no almas pra ver as inspiracoes que noronha me deu - com a devida humildade literaria que me cabe, principalmente se tratando de um leitor como voce! Beijos mil saudades