A agenda de compromissos deitada. É ela a companhia da mulher solitária. Da mulher solitária que passa. Que passa rápida pelo tempo e mal dá conta. Suspira e vem a falta. Da palavra, da poesia que já houve, do ouvido, órgão cansado de tantos falsos lirismos. É carnaval e a mulher sabe que vai morrer. E ainda assim mantém a agenda de compromissos com marcações multicoloridas até o final do ano. Até o próximo Carnaval. Confete de compromissos que ela sabe que não vai cumprir. Mas a dor de não tê-los organizados na agenda de compromissos é maior. E toda noite é assim. A agenda de compromissos deitada ao lado da mulher solitária. No carnaval, uma marchinha ao fundo. De resto, o mesmo de sempre, a mesma mulher, a mesma agenda e os mesmos compromissos, ainda que só rabiscados no corpo da agenda de compromissos silenciosa da mulher solitária que sabe que vai morrer.
Texto: Val Prochnow.
Imagem: Edward Hopper.
6 comentários:
fantástico, que ritmo hipnotizante!
Lindo lindo Val, to chorando... e vc sabe q nao eh falso lirismo...
Mais uma vez, lindo...
amei!
Um texto que pega a alma e conduz à solidão de nós, um texto poético, triste, profundo, lindo.
Lindo
Joao: muito feliz por receber elogio de um eutanástico (???) que acompanho e gosto muito do estilo também, brigada!
Bê: sei que vc seu lirismo não tem nada de falso e sua verdade é das coisas que (mais) admiro em vc...!
Clarinha, coisa boa vc por aqui, aparece mais!
Adriana: suas palavras me deixaram com olhos marejados, =)
Casa de Colméia: lindo é seu blog, vou ler com (c)alma...
beijos!
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