Às vezes me vem um sonho, desses que a gente dedilha na tampa das mesas
Pudera eu ser feita de pedra de canto de passeio, alheia ao resto da história
As manhãs, que como, são especialmente torradas
Esses destemperos me atraem
Põe noção na desordem da minha alma
Estou para o abismo na estrada
Meus olhos são de poentes desarranjados
Não acredito em poesias que duram um estudo
Vivo dependurada na incredulidade
Balançando pernas como criança
Atitudes embaraçam-me o pensar
A chuva que vem de mim não molha
Uso olhos de guardar pessoas
Encarceradas em mim feito oração
O que ilumina a alma são suas chegadas
Amo os ventos em meu sentido
Deito pó em qualquer estrada
As crianças têm consistência da uva
Suspiram-me
Campos de morangos têm gosto de para sempre
Vivo entre dois mundos
Mas prefiro estar onde possa flutuar
Aqueço minhas mãos em olhares de gatos e pessoas com sofrimento
Porque são amaldiçoadas desde muito
Pequenos tristes despedaçam minhas canções
Coleciono pastilhas azuis da torre da igreja
Que caem derribadas de chuvas e vendavais
Carregam orações de sonhar, desejar, saudar e doer
Por isso têm permanência em meus vasos, oratórios e caixinhas antigas
As flores dão devaneio
Colorem pétalas das coisas que não pude
Anjo da guarda é minha sombra
Gentileza delicada de vigiar minhas entradas e saídas
Adoro, e lembro-me de bolinhas brancas em vermelhas sombrinhas
Desmancho minhas tristezas com dedos enroscados no cabelo
Para lambuzar sorrisos, miro sonetos
O que bebo feliz são vinhos com pouco agreste
Espelhos são atraídos se me veem
As esquinas de pôr de sol como destino
são embaladas em letras dourado-azuladas
Para fazer história sem palavras
Cantigas são como ninar a madrugada
Disponho de catracas para liberar realidades
Se estiver só, penso sanatório
Divido cada coisa em tempos separados
Que tiro sem pudor: que para mim desde "sempres", quer dizer ter vergonhas
da gente mesmo
Minha menina está repartida
Cresce em árvores solitárias
Engrandecida como milharal e lua
Perdida como doninha com cara de todo dia
Não devia parar
Sempre penso em amarelo vespertino
Porque as coisas que se deixam ver
Vislumbram do coração
Despedidas são jardins secretos
E segredos são como
palavras que pousam no ar.
Gentileza delicada de vigiar minhas entradas e saídas
Adoro, e lembro-me de bolinhas brancas em vermelhas sombrinhas
Desmancho minhas tristezas com dedos enroscados no cabelo
Para lambuzar sorrisos, miro sonetos
O que bebo feliz são vinhos com pouco agreste
Espelhos são atraídos se me veem
As esquinas de pôr de sol como destino
são embaladas em letras dourado-azuladas
Para fazer história sem palavras
Cantigas são como ninar a madrugada
Disponho de catracas para liberar realidades
Se estiver só, penso sanatório
Divido cada coisa em tempos separados
Que tiro sem pudor: que para mim desde "sempres", quer dizer ter vergonhas
da gente mesmo
Minha menina está repartida
Cresce em árvores solitárias
Engrandecida como milharal e lua
Perdida como doninha com cara de todo dia
Não devia parar
Sempre penso em amarelo vespertino
Porque as coisas que se deixam ver
Vislumbram do coração
Despedidas são jardins secretos
E segredos são como
palavras que pousam no ar.
Poesia: Ana Guerra.
Imagem: Thorsten Paulinski.
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