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Porque era assim. Era assim que eu costumava agarrar o mundo. A escrita faz tudo violentamente mais bonito, e eu fazia. Eu me reconhecia pelo que me traduzia. Pela poesia que a vida me dava, mesmo quando não dava. Mesmo quando não tinha. Porque quando a palavra saía fácil, eu durava no tempo. No mais inverossímil espaço de tempo. Mesmo falando da minha finitude, do meu amor, do meu desejo pelo outro (meu leitmotiv). A palavra me fazia igual ao desejo, insistente, permanente, ruidosa, própria. Agora sou lúcida, palavra que detesto. Não quero. Quero a irrealidade, quero a ilusão inconformada, quero o deleite de escrever como se não houvesse tempo, prazo, meta. Quero o prazer de escrever pra você como se não tivesse perdido um pouquinho de coração no caminho. Porque me falta a palavra, sofro compreendendo o que nunca precisei entender, choro pensando no amor que me falta e no amor que me excede. Eu já fiz sofrer tanto e reconheço a dor. Porque já sofri tanto. Mas ainda assim – e por isso - eu escrevia meus álibis. E meus cúmplices.
As coisas infinitas também morrem. Mas disso eu já sabia.
As coisas infinitas também morrem. Mas disso eu já sabia.
Texto: Sílvia Michelle.
Imagem: Shut up, por Tiago Ribeiro.
Imagem: Shut up, por Tiago Ribeiro.