“É preciso fazer um poema sobre a Bahia...
Mas eu nunca fui lá”
C.D.A. Ainda há pouco cheguei da Bahia. De Cumuruxatiba. Foram sete os dias em companhia do sol e de meu fiel e pontual amigo, Deoti. Guardei meu relógio e toda e qualquer preocupação que carregava. Não deixei que os ponteiros me alertassem nessa viagem. Só os meus sentidos. E um deles foi sentir sua falta. Muito. Sem hora marcada.
O mar fez com que meus olhos se enchessem de versos. O céu, é claro, conspirava a favor das cervejas e caipirinhas. Entre goles e suspiros, espremia areia fina entre os dedos dos pés. E, nas frinchas do meu coração, vento sul - massagem para o ínvio caminhante e alívio para a alma distraída e cheia de esperanças.
Havia toda uma preguiça nas horas, na brisa, nas tardes.
O torpor aconchegava o espírito no corpo. Esforço mínimo e com direção certa. O resto beirava estado de letargia. Pura. Enquanto a maré ia e vinha, partia e voltava, eu continuava ali, cômodo, contemplativo, patético até.
Poucos e únicos pensamentos pairavam na cabeça. Sua imagem se misturava ao calor da Bahia. Volta e meia eu a via, miragem castanha nas paragens verdes do mar. Era o verão. Sangrando em saudades. Salgadas.
De pés descalços, caminhei a beira-mar e de tudo o que vale a pena. Era eu de novo, roçando no lado suave da vida.
Mesmo com toda a saudade no peito, a quietude entre terra e mar, a aragem entre areia e céu, me trouxeram à memória tempos mais amenos.
Ainda há pouco vim de lá. Confesso-me perdido. Mas calmo, talvez. Sua voz ainda mora em mim. Eco suave das brisas que descem da Serra do Curral. Resta um carinho seu na pele, mesmo depois de tanto sal, sol e sul da Bahia. Apesar da distância, sobrevivo. Você ainda vive em mim, resistente.
Ainda há pouco vim da Bahia. E lá, senti de novo que é preciso fazer todo o necessário para tornar o que é eterno suave. E o que for doce e efêmero, eterno.
Ainda há pouco eu vim.
Ainda há muito em mim.