segunda-feira, 28 de abril de 2008

ELEMENTOS


Num céu de azul denso
Alguns vestígios de sol espelhados nos prédios
uma brisa calma me toca o rosto
numa tarde silenciosa, triste
mas essencialmente bela
____
Árvores frondosas
levemente folhadas
ou carecas
cada qual com sua particular beleza
____
O tempo passa e a noite se aproxima
A música, a perfeita harmonia com o vento
A paz estranha, a paz incompreensível
queima a tez por dentro
e a brisa afaga todos os incômodos
____
as folhas se agitam sutilmente
como se quisessem saltar e depois desistissem
mas logo voltam insistentes ao seu suicídio
Imagem: Last Leaf II, por Edward Holmberg.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

AMOR HIBERNADO


Acredito em nós.
Amor de pingüim!
Você longe de mim...
Coração cheio de nós!

Brisa gelada
Remete-me sua presença.
Clima árido
Lembra-me sua ausência.

Amo. Venero - Não vivo sem!
Amo você bem junto,
Mais ninguém!

Sua pele bronzeada,
Minha saudade escorre apaixonada.

Lábios, fluídos, abraços...
Esperança de eternos laços!

Sem você,
Choro, solo, seco, imploro...

Amor de espera.
Mulher eterna
Que em mim hiberna,

Até no próximo
Inverno.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

ESPOSAS E ESPELHOS


eu te remeto a um cubo de açúcar
sou miúda e delicada
bastando uma pequena violência
para que me desfaça, polvorosa

sem esquecer o sabor doce
e a dose contida
pois todos compreendem que não se pode
de maneira alguma
ser enjoativa

você desembaraça meus cabelos
receando que se atrapalhem
e me cala com um repentino beijo
quando externo um átimo do que concebo

você não sabe
que mulheres são medusas
e transformam em pedra
quem as enxerga com verdade?

você talvez saiba
e por isso me ata
temendo minha virtude

eu sou a deusa dos ventos
mas você acha singelo
quando eu cerro as janelas
dizendo “faz frio”

você está apreensivo
que medo tensiona seus ombros?
você talvez tenha sentido
tremerem as montanhas
quando sussurrei seu nome

num dia de chuva você me cobriu com zelo
sem entender que eram lágrimas que caíam
porque eu sou senhora do tempo
e quando sofro
e choro,
eu chovo.
Imagem: The Maroom Cafe, por Katia Chausheva.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

CONCLUSÃO



Já que todo
amor um dia
pode acabar

Todo dia
me acabo
de tanto amar

E sei que
quanto mais
eu amo

Mais amor
tenho para
dar.







Ana Flávia Rodrigues.
Imagem: Head on Heart, de Troy Henriksen.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

OFÍCIO

Isso de amar a palavra, ordenar a frase na medida da lauda, arrancar dos fatos ácidos do cotidiano algum sentido poético de cronista;

Isso de ordenhar do verbo. Evitar a repetição, criar novos formatos para velhas fôrmas;

Isso de correr contra o relógio, de abrir email, falar ao telefone, anotar números sem nomes, perder o ar;
Isso de escolher uma imagem, de acolher uma seqüência, aceitar o corte;

Isso de "entrar ao vivo", isso de improvisar no 1º, no 2º e no 3º ato, decorar passagens e ser instrumento passageiro;
Isso de correr. Isso de estar entre fios e máquinas. E entre gentes e histórias. Isso de não poder mudar histórias. Isso de contar histórias. Isso de se saber parte, de sentir angústia, de fazer hora extra, isso de olheiras e de café;

Isso de assinar. Isso de anonimato. Bloco de notas, caneta sem tinta, atrasos e trânsitos. Isso de se embriagar. Para esquecer, para lembrar, para tornar lúcido e trazer à tona. Isso de ter na bagagem um pouco da loucura dos poetas, isso de Internet e cheiro de livro. Isso de antíteses.
Isso, sobretudo, de acreditar.

Texto: Val Prochnow.
Em comemoração ao Dia do Jornalismo.
Imagens: Autores desconhecidos.

quinta-feira, 3 de abril de 2008


gotas de chuva
corpo molhado
seios maduros
Daniel Rubens Prado.
Imagem: Woman in the waves, by Gustave Courbet.