sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Entre beijos e cigarros


Pelo beijo de antes, pelo cigarro de depois

Seu corpo repousa. No interior, pela janela, uma luz de prata cobre seu rosto. Não passa muito disso: Eu observo, você dorme.

O feixe que a ilumina entra embaçando o que há de tristeza. Ficam apenas saudades e melancolias. Chamemos do que quisermos. Afinal, somos o que fazemos. E assim seremos. Leves como um pensamento bom no final do dia.

Passa ano. Passarinho. Pouso no seu canto. O fim abre espaço para o nascimento. Aborto a dor, a solidão e recrio um mundo preparado para o amor.
Somos assim. Viveremos felizes e iludidos. Tropeçaremos, apenas, em certas lamúrias, que não encontram o tom. E, sobretudo, sonharemos. Afinal, quem sonha desperta.

Pelo cigarro de antes, pelo beijo de depois

Nada virá sem carinho, como as águas mansas do ribeirinho.

Garotos puxam fumo, meninas chupam mangas.

E pelas encostas de nossas Minas, com a poeira enganosa que faz barro da gota de lágrima da moça triste e salga as estradas vermelhas do interior, deito a cabeça sobre o colo macio da mulher amada.

Confusa loba do mar; menina do rio que tem medo de se afogar. Assim como deus e dois são cinco, somos dois astronautas sem ar.

- Carpem, carpem, carpem! – diria, em latim, o poeta social morto.

E é melhor morrer de leveza e encanto, vodka e vinho, ternura e amor, no abrigo de fontes da pátria – gentil e suave, com os braços abertos para uma liberdade, ainda que tardia, na sexagésima nona útil tentativa de sorrir sem culpa. Sem a mácula de dominar o jorro corrosivo do gozo. Sem a vergonha de vê-la entregue a este mundo amado, naturalmente gozoso.

Texto: Daniel Rubens Prado

Imagem: Autores desconhecidos.

2 comentários:

Anônimo disse...

ai ai ai!
teus textos me provocam suspirins tão bons!
beijo querido.

Unknown disse...

como disse a val...
ai ai ai...
lindo demais seus textos...
bjim