Seu corpo repousa. No interior, pela janela, uma luz de prata cobre seu rosto. Não passa muito disso: Eu observo, você dorme.
Passa ano. Passarinho. Pouso no seu canto. O fim abre espaço para o nascimento. Aborto a dor, a solidão e recrio um mundo preparado para o amor.
Pelo cigarro de antes, pelo beijo de depois
Nada virá sem carinho, como as águas mansas do ribeirinho.
Garotos puxam fumo, meninas chupam mangas.
E pelas encostas de nossas Minas, com a poeira enganosa que faz barro da gota de lágrima da moça triste e salga as estradas vermelhas do interior, deito a cabeça sobre o colo macio da mulher amada.
Confusa loba do mar; menina do rio que tem medo de se afogar. Assim como deus e dois são cinco, somos dois astronautas sem ar.
- Carpem, carpem, carpem! – diria, em latim, o poeta social morto.
E é melhor morrer de leveza e encanto, vodka e vinho, ternura e amor, no abrigo de fontes da pátria – gentil e suave, com os braços abertos para uma liberdade, ainda que tardia, na sexagésima nona útil tentativa de sorrir sem culpa. Sem a mácula de dominar o jorro corrosivo do gozo. Sem a vergonha de vê-la entregue a este mundo amado, naturalmente gozoso.
Texto: Daniel Rubens Prado
Imagem: Autores desconhecidos.
2 comentários:
ai ai ai!
teus textos me provocam suspirins tão bons!
beijo querido.
como disse a val...
ai ai ai...
lindo demais seus textos...
bjim
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