quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Da raridade do habitual

“Vem cá, Valéria. Vem ver pássaro raro, outro, aqui em nosso quintal”.

Meu pai, conhecedor das coisas da terra, habituou-se a esse ritual: sempre me convida a um encontro novo. Ele, dono de pouca fala, sente ao fundo isso de ser das Minas. Nascido num interior que ainda hoje conserva o cenário "igreja, praça, ruas de terra", viveu em roçado e inda vive, o roçado, dentro de seu grande, mágico e musical coração.

Passarim de hoje tem nome de ‘rebita-rabo’. E é uma graça, o danado. Anda como se aos pulinhos, ágil e matreiro, e de quando em quando, levanta o rabo, um rabo eriço, fino e certeiro, em direção ao céu. Uma flecha sem ponteira, lépida e arteira, num sobe e desce infinito e brincalhão.

Rebita-rabo anda em passinhos apressados pelo quintal enquanto vejo meu pai. Os olhos dele: acompanho alumbrada.

Crescida em cidade grande, tenho nele a necessária dose pros desejos de alma sertaneja e interiorana que m’habita desde sempre.

E hoje, bebi em seu cálice de barro mais uma dessas largas porções: alimento pra uma vida toda: logo a manhã firmou no céu, Passarim pisou nosso quintal. “Não sabia que gostava de jabuticabas”, disse, encostadim na porta que dá pros verdes da casa. Chegamos perto, numa delicadeza de bailarinos, em ponta dos pés, e eram três! Alvorotados, fazedores de festa no café-da-manhã. “Logo, logo eles voam embora. Esse joão-de-barro, aquele, vê? Pensa, o moleque, que é rei. Afugenta tudo que voa, que rasteja, que arredonda por aqui. Mas é esperto, e raro, o rebita-rabo. Eles voltam. Amanhã, pode botar reparo: eles voltam e em bando. Engraçado, vê que eles gostam mesmo de jabuticabas?”.


Texto: Val Prochnow.
Imagem: Autor desconhecido.

8 comentários:

Anônimo disse...

doçinha!

Anônimo disse...

Minas tem dessas coisas, não é?

Acho que o fato de agente nascer e crescer entre montanhas já nos dá ter um quê de comtemplação... Sei lá!

Linda!

:***

Anônimo disse...

tem de avoa né
te conforto com carinho
e vc tema nesse caminho

bate asas então so
soletre vôos
da uma biliscadinha

Simcoletivo disse...

Coisa mais bela de deuso! Emocionei!

Unknown disse...

Val, lindeza de texto. Fez-me sentir ainda mais saudade da terrinha. Beijo, grande!

Anônimo disse...

Val, do lado de cá, fica toda prosa com tantas palavras gostosas!

Anônimo disse...

linda e fofa,
lindo o texto!

Unknown disse...

e não é que nóis avua??
temos asas...
adorei seu texto!!
parabéns e saudades de ti...
bjos