quarta-feira, 23 de maio de 2012

a noite sou eu


vivo a noite
sou a noite escura fria sedenta
se lua me encolho em sua sombra
se chuva me afogo em poesia

quando as luzes da cidade acendem
as pessoas nos bares ou voltando pra casa
saio em busca de meus pedaços jogados
nas esquinas e nos becos

sou os gatos
que rondam as mesas dos bares
em busca dos restos de comida
os bêbados em sua solidão mascarada
as putas atrás de seus homens perdidos

a noite sou eu a música
os ratos despercebidos e cinzas
os pássaros noturnos e silenciosos

a noite sou eu sem lua

Poesia: Adriana Godoy.
Imagem: Autor desconhedido.

quarta-feira, 11 de abril de 2012



Ela sentada sobre o degrau da porta da frente, contraída e ensimesmada. Sabia tudo o que dizer. E assim, sem mover nenhum músculo, rumou o olhar àquele homem, antes forte e que agora lhe parecia só um homem magro de barba rala e olhar incauto. Imóvel, intacta e convicta. Balbuciou para dentro aquelas palavras tão vorazes, ligeiras e agudas. Ele implorava por palavras. Ela lhe devolvia o silêncio, sempre mais intenso que seu ruído.





Texto: Gigi Favacho.

domingo, 25 de março de 2012

MÍNIMA REALEZA






falar de amor é foda
a mordaça é bruta
como falar sem podas
da primeira vez de uma puta
mendigo que escarrasse no trono
cachorro que mastigasse o dono
prece que se recusasse ao infinito
é sempre o desafio sem sentindo
de salgar os olhos do sono
se tudo já foi dito e repetido amor
se a palavra é branca e viscosa
como sêmen sobre a face impolutacomo se defecando sobre a rosaa palavra doasse o que se refutacomo se o amor fosse esse abandonoao flagelo do silêncio medonhoquando o sonho encontra o gritosagrado fadado ao mal ditoe não resta senão o gume do enganose tudo já foi dito e repetido amor
descobrir o amor: desfazer a prosa
que na cama do carma se desfrutadesmarcar as cartas viciosasmijar sobre o que a espera enlutapenetrar as coxas da lama a vergonhadesonrar qualquer túmulo que se imponhae descobrir no amor já fudidoa réstia de vida de todo morrido




Poesia de Sérgio Gomide.
Clique aqui para mais .


terça-feira, 6 de março de 2012


O corpo guia. É sincero e não mente.

Eu faria muitas coisas para agradá-lo,
simplesmente por fazer feliz meu coração
e outras partes do meu corpo.
Meu amor não é sensato,
incapaz de estatísticas e probabilidades.
Meu amor pode se fazer em um segundo,
durar apenas um segundo,
mas nunca, até hoje,
uma vida inteira.

Hoje posso dizer,
aprendi a desnudar-me de algumas pretensões,
talvez.
Talvez o amor não seja pretensioso.
Pretensões fazem parte de outro mundo de coisas...
se bem que
pretender não é tão ruim assim,
se a angústia for abandonada
e a incerteza se tornar,
ao invés de motivo de medo,
uma aliada.


Texto: Kamilla Mota.
Imagem: Shabahalov.