Era mais uma daquelas noites quentes nessa cidade perdida no meio do centro oeste. Eu vinha de algum canto escuro e enfumaçado da cidade e rumava para casa, ébrio como sempre. Áureos tempos em que não era necessário se preocupar em dirigir nesse estado.
Nessas noites que quase emendavam com o dia e nada de mais interessante havia acontecido nas árduas buscas por qualquer resquício de emoção diferente, eu costumava voltar por um caminho onde as prostitutas ficavam a espera de clientes. Sabia que sempre sobravam umas poucas drogadas procurando carona para qualquer lugar em troca de uma trepada. Ainda não existiam os desgraçados e baratos moto-táxis, que estragaram esse glorioso e degradante bálsamo que me acalmava e me permitia dormir.
Óbvio que a esta hora e nesta situação, somente sobravam as mulheres mais deterioradas e desesperadas. Mas nunca fui de escolher muito. Nem sempre era assim, algumas vezes uma agradável surpresa saia do fundo daquelas empesteadas vielas escuras.
Passei devagar pelas ruas, com o fim da noite, elas iam sendo sugadas pelas sombras e se misturavam cada vez mais à paisagem de concreto e ferro que as cercavam. Se não prestasse muita atenção não conseguia vê-las. Em uma esquina vi um vulto que me chamou a atenção. Era uma garota muito bonita e bem vestida. Fiz minha proposta descaradamente, sabia que tanto elas quanto eu odiávamos rodeios hipócritas e que só nos fazem perder tempo. Entrou no carro e conversamos algumas trivialidades. Fiquei sabendo que havia trabalhado a noite inteira e, como praticamente todas as meninas daquela região, era viciada em zuca, uma droga muito forte que vem do resto da cocaína após a purificação, algo similar ao crack. Convidei-a para ir a minha casa ou teríamos que trepar no carro mesmo, pois não possuía dinheiro para ir ao motel, nem mesmo aos mais vagabundos que ali abundavam. Como ela não tinha pressa para voltar para, seja lá qual for sua origem, fomos. Trepamos, tomamos algumas cervejas, conversamos, trepamos, conversamos e ela acabou dormindo por ali mesmo. De manhã acordei-a para levá-la embora. Precisava trabalhar e de jeito nenhum a deixaria sozinha por ali. Um filho da puta reconhece outro e, mais de uma vez, as pessoas que considerei mais inocentes, me ferraram com gosto. Disse que não precisava levá-la, que pegaria um ônibus por ali mesmo. Não insisti.
Naquele mesmo dia, enquanto almoçava no meu restaurante de costume, assistia ao noticiário sem prestar muita atenção. Uma mulher aos prantos contava a história de sua filha desaparecida há alguns meses e implorava por notícias, já que a polícia não estava dando a mínima. Vi que carregava uma foto que navegava fora das bordas do aparelho, pois mexia muito com as mãos enquanto falava. Quando aproximaram a foto da garota pude reconhecê-la apesar de estar um pouco mais nova e sem o sorriso sacana que não saiu do seu rosto o tempo inteiro em que esteve comigo. O número para contato apareceu abaixo da foto. Olhei para o telefone do balcão em um rompante de compaixão, mas logo desisti da idéia. Voltei ao meu filé com fritas pensando: "que merda que está virando a família brasileira".
Nessas noites que quase emendavam com o dia e nada de mais interessante havia acontecido nas árduas buscas por qualquer resquício de emoção diferente, eu costumava voltar por um caminho onde as prostitutas ficavam a espera de clientes. Sabia que sempre sobravam umas poucas drogadas procurando carona para qualquer lugar em troca de uma trepada. Ainda não existiam os desgraçados e baratos moto-táxis, que estragaram esse glorioso e degradante bálsamo que me acalmava e me permitia dormir.
Óbvio que a esta hora e nesta situação, somente sobravam as mulheres mais deterioradas e desesperadas. Mas nunca fui de escolher muito. Nem sempre era assim, algumas vezes uma agradável surpresa saia do fundo daquelas empesteadas vielas escuras.
Passei devagar pelas ruas, com o fim da noite, elas iam sendo sugadas pelas sombras e se misturavam cada vez mais à paisagem de concreto e ferro que as cercavam. Se não prestasse muita atenção não conseguia vê-las. Em uma esquina vi um vulto que me chamou a atenção. Era uma garota muito bonita e bem vestida. Fiz minha proposta descaradamente, sabia que tanto elas quanto eu odiávamos rodeios hipócritas e que só nos fazem perder tempo. Entrou no carro e conversamos algumas trivialidades. Fiquei sabendo que havia trabalhado a noite inteira e, como praticamente todas as meninas daquela região, era viciada em zuca, uma droga muito forte que vem do resto da cocaína após a purificação, algo similar ao crack. Convidei-a para ir a minha casa ou teríamos que trepar no carro mesmo, pois não possuía dinheiro para ir ao motel, nem mesmo aos mais vagabundos que ali abundavam. Como ela não tinha pressa para voltar para, seja lá qual for sua origem, fomos. Trepamos, tomamos algumas cervejas, conversamos, trepamos, conversamos e ela acabou dormindo por ali mesmo. De manhã acordei-a para levá-la embora. Precisava trabalhar e de jeito nenhum a deixaria sozinha por ali. Um filho da puta reconhece outro e, mais de uma vez, as pessoas que considerei mais inocentes, me ferraram com gosto. Disse que não precisava levá-la, que pegaria um ônibus por ali mesmo. Não insisti.
Naquele mesmo dia, enquanto almoçava no meu restaurante de costume, assistia ao noticiário sem prestar muita atenção. Uma mulher aos prantos contava a história de sua filha desaparecida há alguns meses e implorava por notícias, já que a polícia não estava dando a mínima. Vi que carregava uma foto que navegava fora das bordas do aparelho, pois mexia muito com as mãos enquanto falava. Quando aproximaram a foto da garota pude reconhecê-la apesar de estar um pouco mais nova e sem o sorriso sacana que não saiu do seu rosto o tempo inteiro em que esteve comigo. O número para contato apareceu abaixo da foto. Olhei para o telefone do balcão em um rompante de compaixão, mas logo desisti da idéia. Voltei ao meu filé com fritas pensando: "que merda que está virando a família brasileira".
Texto: Igor Kolling Maciel.
Imagem: Reflexion.
Um comentário:
Que bacana!
Adorei o desfecho do conto
Parabens
Muito bom te ver aqui :)
Postar um comentário