segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A mão sem a luva



Não havia luva.
Nada mais, àquela hora, ocultava a mão.
Ela se revelou, calma e quente,
quente e linda,
- linda e ali -
(ali como nunca)
mais que mão.
Era ela.
Não havia luva.

Naquele dia,
- para sua insana exposição -
não havia luva.
Só havia mão.

Muitos ãos não explicam aqueles dedos,
insustentáveis dedos.
Pesados demais para se acomodar em luvas;
ambiguidade: leves por demais para se evitar a exposição.

Entre pele e lábios,
- não havia luva -
língua e pele,
- não havia luva -
ela se fez, calma e quente,
quente e ali,
de início arredia,
em seguida entregue,
- logo após no comando -
(dedos e lábios: entrega mútua)
Reinou sobre mim!
Mão.

Mas entre a doçura dos dedos
e o amargo da culpa
o fim projetou-se,
e ela restou,
(ali, como sempre)
- perdida entre dúvidas -
Mão.

Entretanto, naquele dia,
além de mão,
além de luva,
além e ali,
(mais ali do que nunca)
- e já com um algo de sempre -
qualquer coisa de novo se manifestou.

Decerto que não mais da mesma culpa.
Tampouco outras ou renovadas luvas.

Para além da mão
e dos lábios
distinguiu-se
uma nova
pesada
insustentável
assustadora
- e prazerosa -
admissão.


Poesia: Ewerton Martins Ribeiro.

Imagem: Tokoia.

Um comentário:

Sil disse...

linda a construção do poema.