Lembra daquela vez em que entre você e eu tinha ele, que depois virou outro, aquele, o amigo fiel e da noite pro dia eu, você, ele, o amigo e mais o mundo inteiro diziam não? Mesmo assim, nadando contra a corrente, furando ondas gigantes, o nosso amor nasceu pra ficar guardado. Caixinha de música que quando abre toca a música mais linda que existe, que faz rir e faz chorar, mas quando se cerra a tampa, faz-se o maior silêncio e dói.
De tempo breve e de brisa batendo no seu ouvido, da janela, na montanha gelada enquanto tentava falar comigo numa distância e água infinitas, vivemos à espera. Da espera fez-se a resignação e a vontade de andar, de viver. Não, não houve desilusão quando eu disse que partiria rumo ao outro lado. Houve a vida nos chamando e como somos assim, fomos, apenas.
De dois corações e uma linha que os unia, perdendo a cor cada dia que passava, restou muito pouco para o que, antes, a espera se valia. Pra não morrer de dor, dobrou-se o amor, ficando cada um com seu cada qual, e tudo o que passou já não fazia mais sentido.
Mas quando você voltou, ao contrario do que imaginávamos, eu estava aqui também, no mesmo lugar aonde me deixou. O nosso amor ainda estava estático, como aquela foto que você tirou sem que eu percebesse e depois me deu, para que eu soubesse que seus olhos me vigiam mesmo quando não estou vendo. Já não podíamos dar corda, pois a caixinha não poderia soar nenhuma música, porque tudo se tornou tão delicado, que qualquer passo errado, acabaria com a nossa dança.
E o que fazer com nossos olhos quando se encontram e despertam o nosso tesouro ainda não encontrado, ou, talvez, até encontrado, mas enterrado de novo para não tornar fácil o que, por contingências humanas, preferimos dificultar?
Sorrateiramente, damos a conta gotas, um ao outro, um bocado do amor que nos pertence, mas que por causa de um maldito oceano vago, irreal e enormemente no seu pensamento, nunca saberemos se ser felizes juntos seria parte do enredo. Como num jogo de azar você jura estar certo em quem apostar, mesmo deitando a cabeça no meu peito, enquanto lhe faço sonhar.
Texto: Ana Flávia Rodrigues.
Imagem: Two Dancers in Blue, de Edgar Degas.
3 comentários:
Aníssima do céu!
se eu recebesse uma declaração linda como esta, aposentava minhas letras e deixava de ser poeta.
Beijos, alegrias e poesias...
Djalma Gonçalves
Puxa!
Bonito demais isso...
Ana Flávia, como eu queria ter dito isso, como eu queria que alguém escutasse isso dito por mim, como eu queria que o querer fosse como sua linda caixinha de música, quase tesouro enterrado, com mapa bem definido e guardado, com nome escrito e chave amarrada no laço... Que lindo você escreve! Fui folha caindo da sua árvore de palavras!
Bê ijos!
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