terça-feira, 25 de setembro de 2007

Setembro no nosso Brasil é, seguramente, tão lindo quanto abril em Paris!


A TUA VOZ NA PRIMAVERA

Manto de seda azul, o céu reflete
Quanta alegria na minha alma vai!
Tenho os meus lábios úmidos: tomai
A flor e o mel que a vida nos promete!

Sinfonia de luz meu corpo não repete
O ritmo e a cor dum mesmo beijo... olhai!
Iguala o sol que sempre às ondas cai,
Sem que a visão dos poentes se complete!
Meus pequeninos seios cor-de-rosa,
Se os roça ou prende a tua mão nervosa,
Têm a firmeza elástica dos gamos...

Para os teus beijos, sensual, flori!
E amendoeira em flor, só ofereço os ramos,
Só me exalto e sou linda para ti!


Título e fotografia: Marcella Jacques
Nossa correspondente no Rio de Janeiro.
Agora, pelas curvas das estradas de Sampa.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007


NOITE MORTA



A rosa profunda explodindo a garrafa de vodka, um tesão imenso
Uma ou duas doses, a terra molhada e o gosto do sexo bem quente
Meu amor está aqui na minha cabeça acima das estrelas mofadas
Respiro a poeira suja de cada beco, e das nossas histórias falsas
Além de cada remorso, de cada explosão de saudade que mata
Que devasta todos meus jardins de musas & faunos deliciosos
Eu vou além! exagero todas nossas viagens, e morro logo depois
Em um êxtase supuroso de tremores esverdeados e bombas
Nus estamos, e sonho com festas e seus beijos de chumbo quente

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Jon Tonucci.
Imagem: Sign of Times,
by Stevyn Llewellyn.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

quarta-feira, 5 de setembro de 2007


“Mas há a vida que é para ser intensamente vivida,
há o amor.
Há o amor. Que tem que ser vivido até a última gota.
Sem nenhum medo. Não mata.”

Clarice Lispector
Há a vida. E por acreditar ser uma só, era a tentativa dela de experimentar mais uma vez o furor. Há tempos a doçura havia tornado tudo mais calmo.

Há o amor. Os beijos ternos, o olhar profundo, a razão por dias mais serenos. Menos solidão, o sono aconchegado, todo um cuidado.

Tudo o que ela desejou durante toda a vida estava ali, ao lado. Bastava um erguer dos braços e teria o abraço. O que sempre esperou.

Mas, há a paixão. E, tomado por uma súbita revolta em ver que ela poderia não ser mais sua, perdeu-se, e com ele o sentido. As mulheres tantas, a vida desregrada, a facilidade em beijar flores. Nada disso importava mais. O sentimento fulminante, a carne viva; o corpo em estado de tensão, esperando o momento de explodir em ações e insensatez. Quedas de hormônios na corrente sanguínea. O sangue irrigando tudo, o rosto ruborizando. Vermelho é a cor. Paixão. E vicia. Lisérgica? As cores parecem ficar mais vivas, as palavras começam a tecer poesias, a música não pára de cantar. A vida parece que nunca vai acabar. A figura se geometricando em três lados, cada um escondendo verdades que ninguém quer. A mentira, a possessividade, o ego, a luxúria, a carência. Tudo sendo mascarado pelas declarações bonitas de um sentimento que passaria tão rápido quanto o efeito de outra droga qualquer. Abrindo fissuras no coração. Dificilmente serão cobertas.

Ela se confunde e se apaixona. Ele se perde em suas próprias esperanças. Talvez, de um dia ter alguma certeza. Os dois em pouco tempo se iludem e vão.
Ela volta pro amor. Ele para as flores. Dor, inevitável elixir de quem escolhe viver.
Ana Flávia Rodrigues,
– Setembro de 2007.
Imagem: The Butterfly,
por Monica Shelton.