Era dia de joelho de porco na casa do amigo. Sábado. Nem uma nuvem no céu. Sol de rachar até cuca de malandro. Saí de casa por volta de uma da tarde. Antes do meio-dia, não sairia nem pela filha da Maitê Proença. Bom, talvez por ela.
Daniel Rubens Prado,
Verão de 2007.
Segundo consta na memória e no paladar, nunca havia comido nada igual àqueles joelhos de porco, feitos por D. Célia, mãe devota de dois e esposa de primeira.
O mês, janeiro. Ao contrário daquele sábado, muita chuva e calor. Primeiro, aproveitando o tempo bom, passei no Bar do Caçapa e comprei uma cerveja que, graças ao todo poderoso freezer, parecia estar mofada. Comprei um maço dos vermelhos e me sentei na calçada, a fim de saborear com calma a primeira cerveja e o segundo cigarro do dia.
O amigo mora longe. Perto da lagoa da Pampulha. Pegaria dois ônibus e gastaria quase duas horas, não fosse o auto que me esperava em frente ao bar. As mesas cheias. O churrasco rolando em brasas. Um sorriso sabático começava a crescer em minha face, ainda sóbria. Uma turma de mulatas descia a ladeira em ritmo de samba. Lembrei-me de Cartola, Nelson e até do Chico. Um grupo de fiéis cachaceiros fechava o primeiro engradado. Não poderia ser outro dia. Sábado!
Cheguei à casa do amigo às três. Seus olhos já denunciavam a leve embriaguez. Senti inveja e logo perguntei se tinha uma branquinha. Ele riu e disse:
- Preciso responder?
Claro que não precisava. Nunca fui a casa dele sem que tivesse pelo menos meia garrafa da melhor. Sua família, no quintal, era só sorrisos. Aquilo que é felicidade. Família que bebe unida permanece unida.
Antes mesmo de entrar já podia sentir o cheiro do suíno. Uma cor de dar inveja a todas as outras partes do porco. Coloquei uma dose da seleta pra dois e o amigo cortou uma lasca da pururuca. Tinha sabor de sábado. Outros amigos chegaram. As mulheres pediam samba. O violão veio até o meu colo e entoei um samba de Vinícius. A caixinha de fósforo do amigo dava o ritmo.
O sol se pôs. A lua apareceu com timidez, junto às nuvens que surgiram no final da tarde. A cerveja gelada descia frenética. A última peça de joelho já estava no ponto. Mais uma dose, algumas outras cervejas e dois pedaços do joelho e a ressaca de domingo não seria mais em vão. Aliás, não foi.
Daniel Rubens Prado,
Verão de 2007.
Imagem: Edição do quadro Angels,
de Raphael Santi.
Autor desconhecido.
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