segunda-feira, 20 de junho de 2011

FALA


O fluxo do ouvido está travado,
Não ouço, mas escuto o que eu falo.
Vejo o que não posso.
O que se preza,
Não mata, não dorme, desespera.
O gosto do silêncio está fechado,
O grito do sufoco está calado.
Calmo, vivo, não enxerga.
Já não come, não engole,
Espera.
O homem que não pensa está ferrado.
Ferrado pelo corpo,
Pelo ato.
Não pensa, descansa,
Não se cala.
Como mero semelhante,
Não entala.
O olho do umbigo já não fecha,
A boca do sussurro já não fala.



Texto e imagem: Bruno Grossi.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

MILES DAVIS


peça para lhe dizer o indizível
só não se sabe porque já está dito
escutar não significa compreender
é mero lapso de incógnito sonido

As ondas fazem o rádio vibrar
essa linguagem indecifrável
invade, fere cristal silêncio
e faz verter o ser pelos sentidos

É o soprar de um trompete
ou o inspirar de um prodígio
que dá letras mortas à palavra
e faz calar sua medíocre eloquência


terça-feira, 14 de junho de 2011

Ciúme de você

As bochechas um pouco caídas, tal como um bulldog francês, e o olhar parado, denunciam a sua, rara, condição de seriedade. E a boca, desenhada a 0.5, com aquele detalhe no meio, fica um pouco aberta, o que faz, de vez em sempre, escorrer uma babinha. O interessante é que em vez de causar nojo, só o que faz é, automaticamente, gerar um ato de cuidado, de pegar um dos tantos paninhos que fazem parte dos apetrechos e limpar.
Uma careta, uma gracinha, esboça um sorriso e volta a ficar com a expressão séria. Será que é sono? Pode ser fome. Não, mamou há apenas duas horas. Está limpinha, então o que pode ser? Nada não. Só porque parece uma mala velha, sorrindo praticamente todos os segundos desde que acorda até dormir – e até dormindo, também sorri – não significa que as bochechas caídas são motivo de preocupação.
Até que, de repente, no meio daquela gente toda da festa junina da escolinha, ele chega. Entoa o seu grave chamamento e dois olhinhos jabuticábicos de cílios de boneca brilham. A bochecha é suspensa por um sorrisão banguelo, as pernas balançam e toda aquela seriedade, incomum, desaparece.
É... As meninas gostam mesmo dos seus papaizinhos.



Texto e imagens: Ana Flávia Rodrigues.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O amor segundo Vagner Luiz


O amor é um sentimento indescritível e confuso.
Ele é profundo, mas se percebe nos olhos, na pele, na superfície do corpo.
Experimente, por exemplo, amar alguém hoje.
Ame essa mesma pessoa amanhã e depois de amanhã e ame-a novamente.
Quando estiver cheio de amar o sentimento de amor vai vazar por seus poros.
O amor vai ser visível em seus olhos, no seu sorriso.
A pessoa que você amar vai se alimentar do amor que vazar de você.
O amor é este sentimento estranho que passa de um corpo para o outro.
Amar é bom nas primeiras vezes, nos primeiros encontros, olhares e beijos.
Depois ele se torna insuportavelmente bom.
Ame no dia dos namorados, ame depois.
Pois, entre dois dias dos namorados há 364 dias pra amar.



Texto e imagem: Vagner Luiz.