segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Nem mias


tarde triste
tarde feliz
repousa ante o meu nariz
não, eu não sou a tarde
sou feliz sem ser felicidade
e você
quem é?

entrou
se despiu
entrou
saiu
rapidamente
deixou
vazio
somente

entrou
saiu
sem pensar

pensou ressalvar
ressalvou sua pele
sem um arranhão
não sei arranhar
garanhão!
não sei arranhar
não escondo
minhas garras
mas jogo assim
não é pra ganhar
não pra mim
perder sim
assim ganhamos
sempre
Poesia: Kamilla Mota.
Imagem: Xiao Peng.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Eduba Mesopotâmica



Acordo cansada
Triste acabada
Mas, mesmo assim me levanto
Num pranto

Gritaria pra todo lado
Papai grita: estou atrasado!
Mamãe grita: pare com esse choro atordoado!

Então tá:
Na escola vou ficar
Estudar, decorar
Tudo igual
Desconfortável
Nossa, quantos clones! Uau!

Vamos, começou!
Professora pede, a gente repete.
Quem erra se borra.
Lavem a palmatória.

3x2=6 3x1=3
De repente vem uma vontade...
Preciso ir ao banheiro.
Mas, se a professora souber,
Me bate.

Chegou o intervalo
Vou comer
E como uma estrela cadente
O tempo passa a correr

Logo vamos para a sala
Cada cadeira em sua ala
Agora é só estudar,
Aprender, decorar.

Até que enfim
A tarde passou
Vamos para o quarto
Comer doces sem fim

Mas chega a senhora, apaga a luz e fala: não façam hora!
Então é agora!
Fecho os olhos,
Mas a dor não vai embora.

A dor me aflige.
Penso: fecha os olhos e finge.
Mas não dá
A dor em mim está a aflorar

A dor da saudade
Da humilhação

Quero fugir da escola
Fugir do meu coração
Quero viver a infância
Quero respeito
Quero meus direitos!


Texto: Júlia Pereira Vargas.
Imagem: Filme "The Wall", do Pink Floyd.