quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009


As pessoas são carentes de utopias, de deuses, de sonhos, de certezas...
e deve ser por isso que é tão difícil... difícil me relacionar com elas...

eu não tenho nada a oferecer senão "talvezes", minhas próprias dúvidas e incertezas...

Eu não poderia iludir ninguém se, antes, não estivesse iludindo a mim mesma...


Imagem: Banksy.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O AMOR NOS TEMPOS DA OBRA

Fecho os olhos, respiro fundo e, antes que a noite termine, desço a escadaria da Obra para umas saideiras. Nas pickups, ritmos clássicos de funk, soul e rock embalam os que resistem na boemia. Nessa hora, a sexta-feira 13 de lua cheia já se transformou em sábado 14. E o relógio tenta, vez ou outra, anunciar o sol, que não tarda. Mas, não tão longe daqui, debaixo desta terra, aonde não chegam nunca, os seres diurnos dormem seus sonos de pedra, sonham castelos de areia, almejam os sóis das manhãs. E nós, sem notícia concreta do dia, continuamos eternamente em obra, dançando, bebendo e flertando.

Entre uma cerveja e outra, eis que, de repente, diante dos meus olhos e da embriaguez dos desejos, surge de blusa verde e sorriso farto a mulher mais suave que se tem notícia. Com a súbita aparição, perco o foco de todas as outras coisas noturnas e me atento apenas em seus sorrisos e movimentos.

Com humildade e assombro, balbucio algumas palavras sem tantas esperanças. Embaixo do ventilador, sob a brisa mecânica que promove encontros inusitados, eu a percebo lindamente miúda, derramando simpatia sem esforço. Assim como eu, a bela tenta se refrescar no bom inferno dançante.


Entre várias palavras e alguns afagos, fico sabendo sua procedência. A doce ninfa que flana na madrugada insone mora no bairro Prado. Porém, anunciando sua precoce partida, me diz que precisa descansar para retomar seus estudos na manhã de sábado. Tento, inutilmente, antes de acompanhá-la à porta, arrumar seus cabelos que pendem sobre os olhos. Mas, em um movimento desajeitado, volto a colocá-los sobre sua vista, ganhando mais um sorriso lindo e inesperado.

De leves e despretensiosos carinhos a alguns chamegos que precedem o beijo, me despeço sem que meus lábios toquem os seus, deixando-a em um táxi pálido no fim da noite. Sua ausência se torna adorável e, agora, me conduz de volta para casa pelos mais doces caminhos.

Mais tarde, acordo sob os encantos de uma leveza estranha. Mesmo com a ressaca que me envolve, abro os olhos e a primeira coisa que penso é na imagem e na leveza daquela mulher Obra. Senhorita de uma beleza maravilhosamente simples, dela guardo o nome, o telefone e a esperança de outros encontros. Ou devaneios.



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Amor, amar cura


Aqui pra nós. Ter ou não ter um amor? Eis a questão.

Ao termos, nos sentimos completos. A vida parece mais fácil, tudo ao redor flui e é mais belo. As estações passam a ter mais importância e sempre nos preparamos para vivê-las prontamente. O coração bate mais suave, a pele brilha, os traços faciais ficam leves e toda canção tem um “quê” a mais. As cores se fortalecem, os aromas se intensificam e o ar fica mais puro. Planos, sonhos, tudo parece tão real. Carícias, dedicação, risos, abraços, beijos, pernas entremeadas... Nossa, quanto suor! Lábios com lábios, olhos fechados em sintonia, quanta harmonia. O mundo pode acabar que nada irá mudar isso.

E como é lindo conviver. Há de superar as dificuldades e aceitar os defeitos. Nas horas boas então, nem se fale. É perfeito! Mas não adianta ter um amor e não se entregar também. É preciso se derramar aos pés da pessoa amada, demonstrar o quanto a ama, fazê-la se sentir única. Isso ajuda a cicatrizar as marcas do passado, sem extingui-las. Bom para o crescimento e melhor ainda para o equilíbrio pessoal. Como é lindo poder usufruir dessa verdade, de forma digna, leal e respeitosa. A verdade de amar um só amor, dois em um, um pelo o outro, lado a lado, para sempre até quando durar.

E quando não o temos mais? O mundo desaba e tudo fica obscuro. Perdemos o chão, o sentido da vida, o rumo. Estáticos, sem reação, pasmem na solidão. Uma dor insuportável. Não se respira, não se concentra, sofre-se de insônia, não se sai da cama de tanto desânimo. Tudo ao redor perde o sentido. Como se perdêssemos nossas pernas e ficássemos impossibilitados de andar. Amputados, decepados, incompletos, imperfeitos. Os sonhos e planos já não fazem mais sentido. Toda a harmonia se esvai pelo ar. O tempo leva o amor embora para que um processo de cura se inicie.
E como recomeçar? Nova vida, novos objetivos, novas alianças, novos belos horizontes. Afinal de contas, a vida nos proporciona inúmeras possibilidades, e não podemos desperdiçar esse presente dos deuses. É preciso achar a beleza novamente.

Mas, ter? Nunca teremos. O sentimento de amor cada um sempre terá o seu, mas a pessoa amada nunca será sua. Ela estará ao nosso lado por simples e espontânea vontade. O Livre Arbítrio existe justamente para vivenciar e dedicar, até quando durar essa verdade. O amor é franco, sem muitas complicações. E quando amamos, é preciso libertar o nosso amor. Para que ele decida ir e vir, e de preferência, claro, ficar.
E o que nos resta é crer e esperar. E no mais, estar pronto, para sempre amar.


Texto: Leo Deoti.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009


a brisa bateu e eu
da sombra na areia caminhei para o mar
e entrei com vontade
quando já não dava mais pé respirei
respirei profundamente e mergulhei
mergulhei humanamente e consegui
por um instante
não pensar em nada

pois era

ele e o mar
o sal e o sol
a pele branca e os lábios avermelhados
o corpo ardia e ele sorria
enquanto o mar nos abraçava
Imagem: Hayley Butler.